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segunda-feira, 30 de julho de 2018

O sótão


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23:22. Onde ela está? Ele a procura como um louco frenético. Não é a primeira vez que ela some. Na verdade, já faz um bom tempo que ela não aparece. Sumiu sem deixar nenhum vestígio. Ele já estava acostumado com esses desaparecimentos, mas nunca ela havia ficado fora por tanto tempo.

Ele pensa nos bons momentos que tiveram juntos. Bons, não. Ótimos. Excelentes. Fantásticos. Não há palavras que descrevam tão fielmente a relação entre eles.

Procura debaixo do sofá. Nada. Debaixo da cama. Nada. Talvez ela esteja dentro do guarda-roupa. Também nada. Se lembra então do sótão. Mas será que ela iria se esconder logo lá? Ele está com medo. Não quer ir. Seu pensamento diz sim, mas suas pernas gritam não, pois as lembranças não são boas. Não daquele lugar.

Respira fundo e segue em direção ao sótão. Puxa a escada e vagarosamente começa a subir. São quinze degraus que mais parecem mil. Ele sente suas mãos tremerem. Talvez deva voltar. Mas, e se ela estiver lá? Ele precisa dela desesperadamente. Não pode ficar mais um dia sem vê-la.

Coloca primeiro a mão direita no vão de entrada do sótão. Depois a esquerda. Suspeitosamente põe a cabeça, sendo primeiro os cabelos que já não corta há três meses devido a promessa que fez (essa história fica para uma outra vez). Depois a testa. Logo após vêm os olhos que estão assustados, com medo do que podem se deparar. O nariz, que está escorrendo, é o próximo a entrar e logo sente um cheiro desagradável que não estava lá na última vez que visitou o lugar.

Depois de estar com o corpo totalmente dentro do sótão, ele sente um frio gelado subir as espinhas. Com as pernas tremendo lembra o porquê de não gostar desse lugar. Seu cachorro Spencer havia morrido ali devido uma picada de cobra que acabou entrando na casa (essa história também fica para uma outra vez). Spencer era adorado pela família, o que fez com que sua morte fosse sentida por todos. Depois desse fato tão triste, ele decidiu não mais visitar esse lugar.

Começa a revirar o local. Encontra um álbum de figurinhas da Copa do Mundo de 2014. Está quase todo completo. Ele lembra que toda semana comprava vários pacotes de figurinhas e, junto com seu irmão mais novo, passavam a tarde colando as figurinhas. As repetidas eram usadas como moeda de troca. Ah, e lembra também, com um grande sorriso no rosto, que passava horas brincando de bafo. Ele, seu irmão mais novo e o seu melhor amigo que morava na casa em frente a sua. A alegria de colecionar e brincar de bafo desapareceu logo após os 7x1 que o Brasil levou da Alemanha.

Estava mexendo num cobertor velho que usava toda vez que assistia televisão, quando de repente ouviu um rosnado. Largou o cobertor na hora. Ele conhecia aquele som. Era o rosnado do Spencer. Mas isso era impossível, pois Spencer não estava mais entre eles. Já havia partido e estava nesse momento no céu dos cães. Procurou o local de onde saia o rosnado. E encontrou. E junto com o rosnado encontrou um par de olhos vermelhos que olhavam para ele fixamente.

Ele checa o local. Procura medir a distância de onde está até o vão de entrada do sótão. Pensa se conseguirá fugir sem ser pego pelo que parece ser Spencer, o que vale lembrar é impossível pois ele está no Paraíso Canino. O animal para de rosnar. Os olhos vermelhos desaparecem. Alívio. Deve ser apenas sua imaginação lhe pregando uma peça. Ele se lembra então do porquê de estar naquele lugar que ele abomina: precisa encontrá-la. E não será um rosnado e dois olhos aterrorizantes que irão demove-lo da ideia.

Há um baú no meio do sótão. Engraçado. Ele não se lembra de tal objeto. Bem, sua mãe estava sempre indo lá. Quem sabe não foi ela que colocou aquele baú ali. Pensa em abri-lo, mas fica apreensivo. O que será que tem dentro? Pode ser o Spencer, com aqueles olhos vermelho-sangue. Ou pode ser ela, a quem procura freneticamente. Nesse momento ele experimenta o sentimento de apreensão com o sentimento de curiosidade. Ele precisa abrir o baú. Ele precisa saber o que tem dentro.

Depois de matutar por dois minutos, decide abrir o baú. Tenta, mas somente tenta. O baú está fechado, lacrado. Ele tenta levanta-lo, mas não consegue. Está muito pesado. Ele passa a lanterna por todo o lugar a procura da chave e nada. Até que, ao andar, ele sente que chuta algo. Coloca a luz da lanterna em cima do objeto. É a chave. Ela é bonita, toda dourada. Ele enfia a chave na fechadura. O baú se abre. Está incompreensivelmente vazio, a não ser pela presença de uma capa preta. Ele tira a capa de dentro do baú.

Ele olha para a capa e não vê uso para ela. Joga-a então para longe. Ele não escuta o barulho dela caindo no chão, o que o intriga. Ele então aponta a lanterna para o lado onde jogou a capa. E lá está ela. De pé, e não no chão. Como se alguém estivesse usando-a. Mas não há ninguém, a não ser a capa. Como isso pode acontecer? Ele não acredita em fantasmas. Pelo menos não nas histórias que geralmente ouve. Mas agora é diferente. Isso não é uma história. É real. A capa está na sua frente. Seria engraçado se não fosse aterrorizante.

Não bastasse a capa parada na sua frente, ele volta a ouvir um rosnado. Do lado da capa os dois olhos vermelhos aparecem novamente. Dessa vez a lanterna consegue iluminar bem e ele vê, ali na sua frente, uma caricatura de cachorro que lembra Spencer. O rosnado aumenta e agora ele consegue ver os dentes pontiagudos. Volta a lanterna para a capa e dessa vez ele vê uma cabeça. Ela é grande e totalmente branca. A cabeça então começa a emitir um som incompreensível e assustador. Os seus ouvidos começam a doer. Junto com o som, Spencer, ou o que se parece ser Spencer, começa a latir.

Os dois veem em sua direção. Com a lanterna ele procura a entrada do sótão. Está longe. E eles estão mais próximos. O que fazer? Como sair dessa situação. Ele realmente não deveria ter ido ao sótão. Ele se odeia por ter tomado decisão tão imbecil. Só Deus sabe o que vai acontecer com ele ali.

- Você me chamou?

Uma voz estrondosa como relâmpago pode ser ouvida.

- Quem disse isso? Quem está falando?
- Oras, sou Eu.
- Eu quem?
- Eu. Eu sou.
- De...De...DEUS?
- Sim, filho.
- Mas o que o Senhor está fazendo aqui?
- Você pensou que somente Eu sei o que vai acontecer com você nessa situação.
- Sim.
- E Eu sei mesmo.
- E o que vai acontecer? Eu vou morrer?
- Não.
- Eu vou ficar preso aqui pra sempre?
- Não.
- Eu serei mordido pelo fantasma do Spencer?
- Não.
- Então o que vai acontecer?
- Você vai acordar.
- Como assim? Isso aqui é um sonho?
- Tecnicamente é um pesadelo.
- Ufa!!! Obrigado, meu Deus.
- De nada. Mas antes de acordar, aqui está o que você anda procurando, mas não acha.
- Não acredito!!! Brigaduuuu.
- De nada. Agora... WAKE UP!!!

Ele abre os olhos. Está todo suado. Olha para o relógio. São 3:15 da manhã. Não se lembra de nada. Levanta e vai tomar um banho. De repente ele para. Sai correndo do banheiro e com apenas uma toalha enrolada na cintura, abre o seu Macbook e começa a escrever.

Ele sente alguém vindo por trás dele. Ele pensa em se virar, mas continua escrevendo. Não pode perder esse momento. Sente então alguém colocando a mão nas suas costas. Um braço então o envolve. Ele, porém, não para de digitar. Nada agora o fará parar. Ele sente então um beijo no pescoço. É sua morena.

- Amore, vem pra cama.
- Agora não, nega.
- Mas são três horas da manhã. Vem deitar.
- Não dá. Não agora. Não depois de tê-la encontrado. Não depois de um bom tempo procurando por ela.
- Ela? De quem você está falando?
- Não é de quem, mas do que?
- Do que você está falando?
- Estou falando da INSPIRAÇÃO. Ela voltou. Pensei que havia sumido, mas ela voltou.
- Ai, meu Deus. Só você mesmo. Vou voltar pra cama.
- Ok. Eu te chamo mais tarde para ir trabalhar.
- Como assim? Você não vai dormir?
- Aaahhh... não tão cedo.

(Nota do autor)
INSPIRAÇÃO
(substantivo feminino)
1. Capacidade criativa dos artistas, dos escritores, dos autores ou de outros profissionais: o criador jamais perde a inspiração.
2. Ideia repentina e momentânea, normalmente genial; iluminação.
3. Algo ou alguém que inspira, que incita a capacidade da criação: ela era a musa e inspiração do poeta.
4. [Religião] Sopro de origem divina que, para os cristãos, teria conduzido os escritores da Bíblia.

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Querido leitor, como está? 

Há muito tempo não escrevo. Devo confessar que não foi por falto de tempo e sim falta dela: minha musa inspiração. 

E sem ela por perto fica impossível escrever uma linha sequer.

E como sei que é impossível? Porque eu tentei. Fiquei várias vezes em frente ao meu computador, que não é Macbook, tentando escrever alguma coisa e nada. Bem, saíram alguns parágrafos, mas não tinha nexo, não tinha ‘liga’. Não que esse texto que escrevi tenha, mas...

Como dito acima, um escritor precisa de inspiração. As maiores obras foram escritas por autores que estavam num dia, ou numa semana, ou num mês, ou num ano muito inspirador. Porém, ele não é o único que precisa de inspiração para viver ou sobreviver.

TODOS NÓS PRECISAMOS.

A inspiração vem e vai... vem e vai... vem e vai...

Muitas vezes demora a vir.

Muitas vezes vai e não volta.

A inspiração move as pessoas. Faz com que elas saiam do lugar.

Qual é a sua inspiração? Ou quem? O que te move?

Bem, vou te deixar pensando. Preciso terminar esse texto por aqui, pois acabo de ter uma ideia para um outro texto.

Um abraço e até mais. E espero que dessa vez... em breve.


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