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terça-feira, 6 de setembro de 2016

Pra mim compra remédio, pessoal.

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Vivemos na era digital: vídeo-game, celulares, tablets, e-mail, e-book, etc. Se minha mãe estivesse viva ela perguntaria para meu filho: “Antony, o que significa esse e da palavra e-mail?”. Fico imaginando como ela pronunciaria e-mail. Com certeza seria algo do tipo emáiul. Bem, meu filho todo nerd iria dizer: “Vóóó... esse e da palavra e-mail quer dizer electronic. e-mail, vó, significa mensagem eletrônica.” Minha mãe, toda boba, diria: “Esse meu neto é tão inteligente. Tinha que ser filho do Edinho mesmo”.

A ideia do e-book é interessante, mas não me agrada completamente. Eu prefiro o livro à moda antiga. Sei que muitos protestarão porque muitas árvores são derrubadas para que haja a produção de papel, mas vale lembrar que hoje muitas empresas trabalham com o reflorestamento. O legal de ler é pegar no livro, virar a página, marcar a página no momento que você tem que parar para depois, mais tarde, voltar à leitura. Tive essa sensação gostosa ao ler o livro de Dom Quixote. Sim, eu sei, demorou muito para que eu lesse a história desse ser tão imaginativo, mas digo que valeu a espera. Aliás, deveria ter lido antes. Fica aqui a dica: leiam Dom Quixote de La Mancha.

E por falar em livros, estamos na semana da Bienal do livro aqui no estado de São Paulo. É um mega evento onde reúne as maiores e também as menores editoras do Brasil. Na Bienal eles têm a oportunidade de mostrar os seus trabalhos, expondo livros e autores. É muito gratificante ver pessoas de todas as idades abrindo livros, olhando os livros, lendo os livros, comendo os livros (não literalmente), discutindo sobre os livros, falando sobre os autores dos livros, tirando selfie com os autores dos livros (nossos queridos e amados Ziraldo e Mauricio de Souza, duas lendas, estavam na Bienal), comprando livros, etc. Isso nos faz pensar que ainda há esperança.

Dizem por aí que uma tal marca de bebida nos dá asas. Bem, ler nos dá asas. Não tem como não nos envolver nas histórias contadas por grandes autores brasileiros e não brasileiros. Ler nos faz viajar pelo mundo. Ler nos faz viajar por mundos. Mundos criados por pessoas mais do que criativas. Mundo do Harry Potter. Mundo do Game of Thrones. Mundo dos Hobbits. Mundos tão distintos uns dos outros, com suas próprias línguas e povos. Mas não precisamos ir tão longe para ver mundos tão diferentes. Leia Capitães de Areia do nosso Amado Jorge. Ou passe um tempo no cortiço de Aluísio Azevedo. Ou pare, pense e contemple as poesias do nosso Fernando Pessoa. Ou leia o que se passa na cabeça dos adolescentes de hoje nas páginas de alguns livros escritos pelo que chamamos hoje de vlogers (o Antony  me fez comprar dois livros desses tais vlogers). Há livros para todos as idades e gostos.

Dizem que uma grande nação tem como característica um povo acostumado à leitura. Me lembro da minha breve passagem pelos Estados Unidos.  Fiquei em Palo Alto, próximo da Universidade Stanford, uma das mais bem conceituadas do país e do mundo. Me lembro de visitar a universidade e uma imagem ficou marcada: para onde olhava eu via uma pessoa lendo. Pode ser óbvio, mas não é. E aquilo me fez pensar: por isso que os EUA são os EUA e o Brasil é o Brasil. É muito capaz de irmos às universidades hoje e vermos jovens atrás de pokemons

A leitura nos ajuda não somente na nossa formação, nos ajudando a falar um português correto (não há nada que irrite mais do que a forma como as pessoas escrevem mas, principalmente os adolescentes), mas também nos faz pessoas mais críticas. E pessoas críticas são pessoas menos influenciáveis. E pessoas menos influenciáveis são mais críticas àquilo que acontece no e com o país onde vivem. Não à toa os políticos dizem que irão investir em educação, mas nunca investem. Para eles não é interessante ter um povo que pensa.

Um povo que lê é um povo educado. Um povo educado é um povo que consegue buscar melhores posições dentro da sociedade. Um povo educado é um povo consciente. Um povo educado é um povo que conhece os seus direitos. Um povo educado é um pouco que conhece os seus deveres. Um povo educado é um povo que conhece e respeita a sua história.

Uma pessoa idosa é uma pessoa que tem uma história. Qual? História de vida. História de lutas. História de derrotas e vitórias. Nossos avós têm uma história. Muitos vieram de outros países buscar novos ares nesse país tropical abençoado por Deus. Muitos vieram fugidos de guerras que exterminaram tudo e todos. Muitos vieram de outras cidades, outros estados atrás de uma condição de vida melhor. Pessoas educadas veneram e cuidam dos seus idosos porque sabem que eles fizeram e deram os seus melhores anos de vida por essa nação chamada Brasil.

Domingo à tarde. Dentro de um vagão de um dos metrôs da linha vermelha uma senhora com um saião e um saco plástico na mão grita a todos os pulmões: “Ajuda eu, pessoal. Dá uma moeda pra mim compra remédio, pessoal. Ajuda eu, pessoal. Dá uma moeda pra mim compra remédio, pessoal. Ajuda eu, pessoal.  Dá uma moeda pra mim compra remédio, pessoal.” Ela gritava essas frases sem interrupção. E várias e várias vezes. Tirei o trocado que tinha no bolso e coloquei no saco de plástico enquanto ela continuava gritando “Ajuda eu, pessoal. Dá uma moeda pra mim compra remédio, pessoal. Obrigado, mocinho.”

Muitos ali tinham ar de pena, de dó. Muitos ali ajudaram a velhinha. Muitos ali devem ter visto a velhinha como suas próprias mães ou avós. Eu tive uma reação diferente. A situação vivida naquele momento não me fez ter pena dessa senhora.

Me fez sim ter pena da família dela. Onde estariam os filhos e netos dela?

Me fez ter pena do Brasil. Como podemos deixar uma senhora, que deveria estar em casa curtindo os filhos e netos, ficar num vagão de trem pedindo esmolas?

Me fez ter pena de mim afinal de contas eu faço parte dessa nação.

Até quando iremos negligenciar a leitura?

Até quando iremos negligenciar nossos idosos?

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