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sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Brasis

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- Deve ser muito dolorido, não?
- E como.
- O que aconteceu?
- Morreram de desgosto.
- Mas eles eram tão unidos. Sempre felizes.
- Há quanto tempo a senhora não aparece em São Paulo, tia?
- Já vai para uns 24 anos.
- Então a senhora não sabe da missa a metade.
- Então fill me in.
- É uma longa história.
- Bem, não iremos a lugar algum nas próximas horas.
- Ok! Então, senta que lá vem história.

O ano é 2000. Todos estão em polvorosa. É muita alegria. Pela primeira vez na história da família eles terão o nascimento de não um, mas dois bebês. Sim, são gêmeos. A futura mamãe está que não se aguenta. Imagina a combinação de roupas, penteados, carrinhos, brinquedos. Tudo em dobro. O pai também está perdido em pensamentos. E também pensa na dobradinha: alimentação vezes 2, saúde vezes 2, choro vezes 2, noites sem dormir vezes 2... Tudo em dobro, é verdade, porém não se pode esquecer que o amor também é vezes dois, o sorriso vezes dois, o carinho vezes dois...

Todos estão em casa: os pais Amélia e Nelson, os gêmeos Carlos e Antônio, os familiares que não perderão esse momento por nada, os vizinhos que adoram a família e que também contavam nos dedos a chegada do grande dia, o pessoal da igreja que preparou um culto especial em forma de boas-vindas para os mais novos membros da família e até um penetra que vê a muvuca que está na casa e por curiosidade resolve entrar.

Passados horas, choros, abraços, discursos e tudo mais que faz parte de uma grande festa, todos vão para casa. Todos menos as sogras e os sogros. Como a filha e o filho são pais de primeira viagem, eles resolvem ficar para dar uns conselhos. Bem, na verdade isso é apenas desculpa para poder ficar um pouco mais ao lado dos netos que são, verdadeiramente, anjinhos. Ambos cabeludos e fofuchos.
O tempo passa e os gêmeos Carlos e Antônio crescem cada vez mais amigos, cada vez mais unidos, cada vez mais irmãos. Eles simplesmente se adoram e fazem tudo juntos. Eles sempre...

“- Meu filho, eu já conheço essa parte da história. Eu os vi crescer, lembra? Depois que eu perdi contato. Dá para pular essa parte da infância?
- Não, tia. Não dá. A senhora pode conhecer a história, mas o pessoal que nos lê não.
- Tá bom, então. Mas vai logo com essa parte, por favor.
- Vou tentar. Bem, como eu dizia...”

... acordam e vão dormir no mesmo horário; estudam no mesmo horário e na mesma sala; contam e riem da mesma piada; gostam do mesmo tipo de comida. A única coisa que fazem separados é namorar. Sim, eles têm namoradas diferentes. E sim, elas sabem distinguir entre um e outro, sabem dizer quem é quem.

Tudo parece perfeito e maravilhoso. Como dito anteriormente, eles se adoram. É difícil presenciar uma discussão entre eles. Eles não brigam por motivo algum. Bem, pelo menos não brigavam.

O ano agora é 2018...

"- Tia! Tiaaaa!!!
- Hã?!? O quê? Quando? Por quê?
- Tia, a senhora estava dormindo.
- Quem, eu?
- Sim, a senhora.
- Que nada! Eu estava meditando.
- Que mané meditando o que. Confessa, tia.
- Tá bom. Eu confesso. Estava dormindo. Também, essa história não acaba nunca.
- Tia, vou entrar na parte onde eles deixam de ser tão unidos.
- Ah, é. Bom, essa parte me interessa.
- Então, acorda!!! Não vá dormir de novo.
- Não, tô bem. Pode continuar a história.
- Ok. De novo, como eu dizia..."

Como está escrito acima, o ano é 2018. Eles não são mais crianças. Ambos acabaram de completar 18 anos. Antônio está na sala assistindo seu programa predileto quando Carlos entra na sala.

- Mano, chega mais. Está passando o novo episódio de The Walking Dead. Vamos assistir.
- To afim não. To com fome. Quero jantar. E mais, TWD está ficando sem graça. Parece que o Rick vai morrer.
- Nããããão, mano. Sem spoiler.
- Eu disse parece que ele vai morrer e não que ele irá morrer.
- Anyway, vamos assistir. Senta e...

Antônio para de falar. Ele não acredita no que os seus olhos estão vendo. Na verdade, ele não quer acreditar. Ele desliga a televisão para falar com Carlos. E para ele desligar a TV no meio do seu programa predileto é porque a situação é séria.

- Que droga é essa?
- Do que você está falando?
- Dessa camiseta aí.
- Ah, você viu.
- Não, estou vendo agora. E não quero acreditar.
- Acreditar no que?
- Que você apoia esse cara.
- Bem, apoiar apoiaaaaar eu não apoio, mas acho que ele pode mudar o Brasil.
- TÁ MALUCO?

Carlos não tinha certeza, mas aquela deveria ser a primeira vez que o seu irmão gritou com ele.

- ESSE CARA É DOIDO!!!
- Hey, posso saber o porquê do tom de voz?
- Desculpa, mano.
- Assim é melhor.
- Você sabe que sou um cara da paz, mas essa camiseta... esse cara nessa camiseta... bem, ele me tira a paz.
- Se não for ele, que será então.
- QUEM????
- OPA, VAI GRITAR DE NOVO?

Agora é o Carlos que aumenta o tom de voz.

- Que pergunta mais idiota você me faz. É claro que o outro cara que está concorrendo com ele é beeeem melhor e pode nos colocar no trilho de novo.
- O outro cara? Hahahaha!!! O outro ou os outros?
- O que você quer dizer com isso?
- O cara é manipulado, todos sabem disso. Só você e os outros cegos que não querem enxergar. Está na cara.
- OLHA LÁ COMO VOCÊ FALA DELE.

Antônio dá um salto do sofá e fica de frente com Carlos. Os dois estão cara a cara, nariz a nariz, bafo a bafo.

- Mano, você escovou os dentes?
- Claro que sim.
- Não parece. Tá com o mesmo cheiro do seu queridinho. Cheiro de podre.

Antônio não aguenta a ofensa e então começa a briga. Ele é mais forte do que o Carlos. Não muito, mas é. Ele segura Carlos pelo pescoço e começa a soca-lo. Carlos tenta se desvencilhar, mas o seu irmão é forte. Com o barulho da luta, Nelson sai do banheiro onde estava calmamente pensando na vida enquanto lia o jornal do dia anterior e vai até a sala ver o que está acontecendo. Fica estarrecido quando flagra os seus filhos enroscados um no outro e dá um berro. Aliás, o primeiro berro que profere nos últimos 15 anos. Ele sempre foi calmo, mas aquela cena o tira do sério.

- O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI???

Antônio automaticamente solta Carlos. Não lembra da última vez que o seu pai gritou com eles. Bem, lembra sim. Foi o dia em que os dois, brincando de pega-pega, quebraram o vaso que ficava na mesa-centro da sala. Wow!!! Isso foi há quinze anos.

- ANTÔNIO, O QUE É ISSO? OLHA SÓ O NARIZ DO SEU IRMÃO.

Carlos está com a camiseta toda ensanguentada e com cara de muitos poucos amigos. Ele bufa como boi bravo. Seus olhos são como facas e estão apontadas para Antônio. Esse sentimento de raiva também é novo para Carlos. Nunca havia sentido isso, muito menos se tratando do seu irmão que ele adora.

- Foi ele quem começou pai.
- Como assim? Começou o que?
- Olha só a camiseta que ele está usando!

Nelson tenta decifrar qual a imagem que está por baixo do mar de sangue que ficou a camiseta de Carlos. Ele cerra os olhos e mesmo assim não consegue ver com clareza o que é.

- Antônio, diga logo o que é pois não consigo ver nada.
- É A FOTO DO OUTRO LÁ.

Carlos dá um grito. Ele não aguenta mais de raiva e dor. Quer bater e muito no seu irmão. E essa raiva toda faz com que ele ignore a presença do pai. Nunca que em sã consciência ele iria gritar com o seu pai.

- TO USANDO A CAMISETA COM A FOTO DELE. E DAÍ?

Nelson fica pasmo com a audácia do seu filho em: primeiro, gritar com ele e, em segundo, usar a camiseta com a foto do outro lá. Ele não sabe o que é pior.

- Rapaz, olha pra mim.

Carlos olha, mas com apreensão.

- Você sabe quem sou eu?

Carlos está mudo.

- Vou perguntar novamente, pois acredito que não tenha ouvido da primeira vez.  Você sabe quem sou eu?
- O senhor é o meu pai.
- Exatamente. E isso é maneira de falar com o seu pai?
- Não, senhor. Mas foi o Antônio que...
- Não quero saber. Da próxima vez que você gritar comigo, bem será a última vez. Estamos entendidos?
- Sim, senhor.

Antônio dá uma pequena risada. Nelson percebe na hora.

- E você? Está rindo do que?
- De nada.
- Não é o que parece. Por um acaso está rindo da situação do seu irmão que está com o nariz sangrando?
- Não, senhor.
- Ah, que bom, pois não é nenhum pouco engraçado.

Enquanto eles conversam sobre o ocorrido, Amélia adentra a sala e vê os seus dois filhos amados. Um está com o cabelo todo desarrumado. O outro, além do cabelo desarrumado, está com a camiseta toda ensanguentada. Seu instinto de mãe a faz correr em direção do pai. Como qualquer mãe faria naquele momento, ela acintosamente defere um tapa em Nelson, que não entende nada.

- Hey! Por que você me bateu?
- Por que???? Olha a situação dos meninos.
- O que que tem a situação dos meninos?
- Você deve ter batido neles. Olha como está o meu Carlinhos. Tadinho!!! Vem aqui com a mamãe, meu bebezinho.

Amélia puxa Carlos para o seu lado e começa a acaricia-lo. Depois pega um pano e começa a limpar a sua camiseta.

- Pensando melhor, tira essa camiseta, Carlinhos. Vou no seu quarto buscar uma nova, limpinha e cheirosinha. E quando eu voltar quero saber direitinho o porquê de você ter batido nos meninos, ouviu senhor Nelson Batista de Oliveira Filho.
- Mas eu...
- Sem mas. Quando eu voltar a gente conversa.

Enquanto Amélia vai para o quarto, Nelson...

"- Hey. Parou por quê?
- Estou checando se a senhora está acordada.
- Se estou acordada? Mas é claro que sim. Não quero perder nenhum detalhe.
- Tá gostando da história, tia?
- Gostando??? Estou adorando. Eu daria mil Reais para ver a Amélia dando um tapa na cara do Nelson. Isso é surreal. Bem, continua. Para não.
- Ok, como dizia..."

Enquanto Amélia vai para o quarto, Nelson conversa com os meninos e pede para que eles esclareçam para a mãe deles o que realmente aconteceu.

A mãe do Carlinhos e do Toninho volta com uma camiseta nova, limpinha e cheirosinha e ajuda o seu filhinho a coloca-la. Enquanto isso Antônio explica o que aconteceu. Amélia se desculpa com Nelson e diz que irá compensa-lo mais tarde depois que os meninos estiverem dormindo. Nelson gosta da ideia e pensa que não foi tão ruim assim ter levado um tapa.

Quando Amélia pega a camiseta para checar a foto do outro lá, ela não se aguenta e começa a bater em Carlos. Antônio olha para Nelson que olha de volta para Antônio. Os dois ficam ali perplexos, sem entender o porquê de o Carlos estar apanhando mais uma vez.

O que os dois não sabem é que Amélia havia prometido que não tomaria partido nas eleições. Irá votar para quem o coração apontar. Porém, não pode deixar que seu filho de ouro defenda um homem com ideias tão retrógradas.

Nelson então intervém. Puxa Amélia para longe do Carlos.

- Oh, mulher. O que é isso? Endoidou de vez?
- Quem está doido aqui é o seu filho. Como pode colocar uma camiseta dessas?
- E daí? Deixa o menino votar em quem ele quiser.
- Olha, eu pensava assim, mas mudei de ideia. Esse aí não.
- Ele vai votar em quem então.
- SEI LÁ, MAS ESSE AÍ DEFINITIVAMENTE NÃO.

Amélia dá um grito ensurdecedor. Todos, de forma atônita, olham para ela. Nelson não acredita no que vê nem no que ouve. Ele se pergunta o que está acontecendo com sua família. Amélia então começa a falar.

- Me perdoem. Eu não sei o que está acontecendo comigo. Eu nunca fui assim.
- Calma, meu amor. Essas últimas semanas têm sido muito difícil. Os nervos estão a flor da pele.
- Sim, eu sei disso. Mas isso não deveria afetar nosso psicológico.
- Não deveria, mas está.

Nelson abraça Amélia que desaba a chorar. Antônio então se junta aos dois e, sentimental como a mãe, começa também a chorar. Nelson, metido a valente, reluta, mas depois de alguns segundos sente as primeiras lágrimas correrem pelas bochechas sujas com a labuta do dia.

Todos abraçados e pensando no que havia acontecendo.

"- Peraaaaa. Como assim todos? E o Carlos? Você não citou o nome dele.
- Exatamente, tia. Está prestando atenção, hein?
- Opa. Não consigo nem piscar. Mas e aí? O que aconteceu com o Carlos?"

Carlos não é sensível como o seu irmão. Enquanto eles se abraçam na sala, ele vai para o seu quarto, pega sua mochila verde preferida e começa a arrumar suas coisas. Na sua cabeça aquela é a primeira e última vez que seu irmão e sua mãe põem a mão nele.

Quando os três dão conta, Carlos já tinha saído de casa. Nelson e Amélia vão na casa de todos os parentes, dos amigos dele, da sua namorada e nada. Vão até a delegacia e nada. Vão também em vários hospitais, mas nada também.

O tempo passa e há uma transformação radical na família. Não há mais alegria. Ela partiu junto com o Carlos. Nelson é mandado embora, pois fica dias e dias fora, atrás do seu filho, e com isso a empresa não pode fazer nada. Até ajudam no início, mas depois a situação fica insustentável. Amélia emagrece. Não come quase nada. Por vezes é levada para o hospital para tomar soro. E Antônio, bem, esse sofre e muito. Cresce sem amigos, sem namoradas, sem vontade de viver. A única coisa que o mantem vivo é a esperança de encontrar o seu irmão.

Então ele aparece.

"- OH MEU DEUS!!! O CARLOS APARECEU???
- Não, tia. Um amigo dele apareceu.
- Ah, pensei que era ele.
- Tia, to quase acabando. Calma aí.
- Tá bom. Desculpa."

 Certo dia alguém toca a campainha. Nelson sai correndo para atender. A sua frente está um rapaz malvestido e acatingado. Ele se chama José e diz que tem notícias sobre o Carlos. Amélia mal ouve o nome do seu filho e desce correndo do quarto. Coloca José para dentro de casa e pede para que ele fale logo.

Carlos está morto e José era seu amigo de rua. Sim, Carlos tinha se tornado um morador de rua. Tinha comprado uma passagem para o Rio de Janeiro, sua cidade preferida, e lá ficou morando nas calçadas da cidade maravilhosa. Fez amizade com José. Os dois não se desgrudavam. Carlos disse que José seria o seu novo irmão.

O tempo foi passando e Carlos foi ficando cada vez mais calado, cada vez comendo menos, até que passou mal e foi levado para o hospital onde veio a falecer. José fuçou nas coisas dele e encontrou o endereço daqui.

Antônio, ao ouvir a notícia do falecimento do irmão, se trancou no quarto. Passadas algumas horas, veio também a falecer. Ninguém sabe o motivo. Com certeza não foi suicídio. Os médicos dizem que morreu de desgosto.

"- Bem, essa é a história de dois irmãos que se amavam e acabaram brigando, se separando e morrendo.
- Wow. Que triste, hein?
- Muito.
- Mas diga uma coisa.
- Falo até duas, tia.
- Tudo isso por causa daquele e do outro lá?
- Exatamente.
- Aff!!!"

                                             * * * * * * * * * * * * * * *

Você pode pensar que essa história é fictícia e um pouco carregada no drama.

Será?

O que tem acontecido nos últimos meses?

Conhecidos, sejam eles familiares ou amigos, têm se engalfinhado em rede social como verdadeiros gladiadores.

Vivemos num regime democrático onde todos temos o direito sagrado de opinar e votar em quem acharmos que seja legítimo receber nosso voto.

O que não pode é o cidadão defender sua opinião com agressividade e total falta de senso e educação, a ponto de fazer chacota e até mesmo agredir não apenas verbalmente, mas também fisicamente.

Fica a pergunta para todos nós:

Será que vale a pena?

Que você possa votar de forma consciente naquele que você acredita estar melhor preparado para dirigir nossa nação.

Quem está preparado?

Bem, a sua consciência irá lhe dizer.

E que no final da votação a DEMOCRACIA seja a grande vitoriosa e que nós BRASILEIROS possamos ter uma BRASIL melhor para TODOS!!!!

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5 comentários:

  1. Parabéns 👏👏👏 incrível esse texto.

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  2. Excelente texto. Nos leva a reflexão! Parabéns!!!👏👏👏

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  3. Mais um excelente texto pra conta mestre 👏🏼👏🏼 Parabéns e que consiga trazer a razão alguns de cabeçados que estão colocando essa situação política acima do respeito e amor ao próximo 💝

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  4. Exatamente, situação parecidas estão acontecendo e não estão se dando conta, não estou entendendo, tanto ódio e intolerância, falta respeito, falta amor, mostra claramente por isso que o Brasil está na situação que está agora.

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