Translate

sábado, 1 de agosto de 2015

Ela toca

Ela toca.

Fran abraça a doutora Valeska. 
Não sou fã dos programas da rede Globo. Dificilmente sintonizo na tela do plim plim. Porém há um programa que vez e outra eu assisto: Fantástico. E sempre que assisto sou brindado com uma matéria interessante e muitas vezes tocante. E não foi diferente agora.

No programa do dia 26/07/15 foi exibido uma matéria sobre um projeto chamado Consultório na Rua.

A ideia do projeto é levar assistência médica e social a quem mora nas ruas e ele é de responsabilidade das prefeituras e financiado pelo Ministério da Saúde. Pois é. Nem tudo que vem do governo é ruim.

Há mais de 140 consultórios espalhados em 80 cidades brasileiras. Mas ainda é pouco frente o universo de mais de 500 mil moradores de rua. O ideal seria haver um consultório para cada município do Brasil e estamos falando de mais de 5.500 municípios em todo território.

Mas o texto não é para falar das mazelas do nosso amado Brasil. Textos maldizendo nosso país há mais de centenas por aí. Hoje falaremos de coisas boas: cuidado, zelo, paixão pela profissão, amor pelo próximo.

O que me chamou a atenção foi a frase dita pela moradora de rua Franciane da Cruz. Alias é a frase que dá título ao texto. Fran é moradora de rua desde o nascimento e hoje já está com 21 anos de vida. Ela diz com os olhos cheios de lagrimas que a doutora que cuida dela, que a visita, a pega pelo braço, conversa com ela, bem, essa doutora é diferente dos outros médicos. ‘Ela te olha... Ela te cuida... Ela toca... Ela dá esperança’.

Van utilizada pela equipe do Consultório na Rua

A tal doutora que toca é Valeska Antunes. Ela sai do hospital, vai até onde Fran está, conversa mostrando total e real interesse, dá instruções e recomendações e leva Fran até o hospital para melhores cuidados.

Outro personagem do programa é Hugo Alberto da Silva, conhecido como seu Hugo, é um senhor de mais de 70 anos que não nasceu na rua, mas foi parar lá por causa de um conflito de família. Seu Hugo adora doces e tem suspeita de estar com diabetes. Seu Césio, conhecido também como Dr. Césio Sotero, demonstra a maior paciência do mundo com seu Hugo, explicando detalhadamente quando e como tomar cada remédio. As palavras do Seu Hugo para descrever seu Césio: ‘Esse doutor mesmo eu gosto dele a pampa. Porque ele é bom, trata a gente bem.’

Anderson Sá Vieira é um caso clássico. Foi morar na rua devido o uso de drogas. Entrou no mundo maldito e não conseguiu sair. Acabou sendo expulso de casa pela família. Durante dois anos ficou perambulando pelas ruas da cidade maravilhosa e um dia recebeu um abraço de um dos médicos do Consultório na Rua. Anderson diz que esse gesto mudou sua vida. ‘Eu vivia na rua e dificilmente tomava banho. Então eles vieram e me abraçaram como se eu fosse da família deles’.

Você já sentiu o cheiro de uma pessoa que fica um dia sem tomar banho? E dois dias então? E semanas? Você abraçaria uma pessoa assim? Eu muito provavelmente não abraçaria. Acredito que você também não. Pois é nesse gesto simples que está toda a diferença.

A equipe que trabalha no consultório de rua literalmente abraça a causa. Eles vão até as pessoas necessitadas. Em lugares onde eu e você passamos a largo. Eles conversam com pessoas esquecidas pela sociedade.

Um dos médicos idealizadores do projeto, que começou em Salvador nos anos 90, diz: ‘nosso trabalho não é salvar vidas e sim transformar seres invisíveis em cidadãos’.

Atendendo um dos milhares de moradores de rua

O doutor Césio diz: ‘Eles podem desistir. Quem não pode desistir somos nós’. ‘É possível levar um pouquinho para esse povo. E isso é muuuito bom’.

E eles têm feito isso. E olha que não é um pouquinho não. É um poucão.

Fran foi tratada e hoje é outra pessoa. Ainda mora na rua, mas pensa em arrumar um emprego e alugar sua casinha. Por ser moradora de rua, convive com cães e gatos e por isso quer se tornar uma veterinária para poder cuidar dos bichinhos.

Seu Hugo foi convencido pelo doutor Césio a procurar um abrigo e hoje não mora mais na rua e sim no abrigo Plínio Marcos. E deu uma diminuída no consumo de doces.

Lembra do Anderson Sá Vieira? O drogado? Pois ele era também  analfabeto. Pois bem. Hoje está internado numa clinica de recuperação e está cursando o Mobral. Está aprendendo a ler e escrever. Perguntado se estava feliz, respondeu sorrindo: ‘Feliz? Pô. To muito feliz. Hoje me sinto gente. Me sinto sábio. Sou outro Anderson. O Anderson velho morreu. E tudo que sou hoje agradeço ao pessoal do consultório de rua’.

Como seria bom se tivéssemos mais pessoas como Valeska, Césio e tantos outros profissionais que vêem o ser humano como ser humano. Que deixam a vaidade e o preconceito de lado por uma causa mais do que justa e nobre: o amor pelo próximo. O amor pela Fran, pelo seu Hugo, pelo Anderson e por tantos outros que estão jogados pelas ruas tristes e imundas das cidades. Pessoas que não são diferentes de nós. Pessoas que precisam de cuidados. Pessoas que precisam de amor. Pessoas que precisam de um simples, mas sincero abraço.


Nenhum comentário:

Postar um comentário