Ela toca.
Fran abraça a doutora Valeska. |
Não
sou fã dos programas da rede Globo. Dificilmente sintonizo na tela do plim
plim. Porém há um programa que vez e outra eu assisto: Fantástico. E sempre que
assisto sou brindado com uma matéria interessante e muitas vezes tocante. E não foi diferente agora.
No
programa do dia 26/07/15 foi exibido uma matéria sobre um projeto chamado Consultório na Rua.
A
ideia do projeto é levar assistência médica e social a quem mora nas ruas e ele
é de responsabilidade das prefeituras e financiado pelo Ministério da Saúde. Pois
é. Nem tudo que vem do governo é ruim.
Há
mais de 140 consultórios espalhados em 80 cidades brasileiras. Mas ainda é
pouco frente o universo de mais de 500 mil moradores de rua. O ideal seria
haver um consultório para cada município do Brasil e estamos falando de
mais de 5.500 municípios em todo território.
Mas
o texto não é para falar das mazelas do nosso amado Brasil. Textos maldizendo
nosso país há mais de centenas por aí. Hoje falaremos de coisas boas: cuidado,
zelo, paixão pela profissão, amor pelo próximo.
O que me chamou a atenção foi a frase dita
pela moradora de rua Franciane da Cruz. Alias é a frase que dá título ao texto.
Fran é moradora de rua desde o nascimento e hoje já está com 21 anos de vida.
Ela diz com os olhos cheios de lagrimas que a doutora que cuida dela, que a
visita, a pega pelo braço, conversa com ela, bem, essa doutora é diferente dos
outros médicos. ‘Ela te olha... Ela te
cuida... Ela toca... Ela dá esperança’.
Van utilizada pela equipe do Consultório na Rua |
A
tal doutora que toca é Valeska Antunes. Ela sai do hospital, vai até onde Fran
está, conversa mostrando total e real interesse, dá instruções e recomendações e
leva Fran até o hospital para melhores cuidados.
Outro
personagem do programa é Hugo Alberto da Silva, conhecido como seu Hugo, é um
senhor de mais de 70 anos que não nasceu na rua, mas foi parar lá por causa de
um conflito de família. Seu Hugo adora doces e tem suspeita de estar com
diabetes. Seu Césio, conhecido também como Dr. Césio Sotero, demonstra a maior
paciência do mundo com seu Hugo, explicando detalhadamente quando e como tomar
cada remédio. As palavras do Seu Hugo para descrever seu Césio: ‘Esse doutor mesmo eu gosto dele a pampa.
Porque ele é bom, trata a gente bem.’
Anderson
Sá Vieira é um caso clássico. Foi morar na rua devido o uso de drogas. Entrou
no mundo maldito e não conseguiu sair. Acabou sendo expulso de casa pela
família. Durante dois anos ficou perambulando pelas ruas da cidade maravilhosa
e um dia recebeu um abraço de um dos médicos do Consultório na Rua. Anderson diz que esse gesto mudou sua vida. ‘Eu vivia na
rua e dificilmente tomava banho. Então eles vieram e me abraçaram como se
eu fosse da família deles’.
Você
já sentiu o cheiro de uma pessoa que fica um dia sem tomar banho? E dois dias
então? E semanas? Você abraçaria uma pessoa assim? Eu muito provavelmente não
abraçaria. Acredito que você também não. Pois é nesse gesto simples que está
toda a diferença.
A
equipe que trabalha no consultório de rua literalmente abraça a causa. Eles vão
até as pessoas necessitadas. Em lugares onde eu e você passamos a largo. Eles
conversam com pessoas esquecidas pela sociedade.
Um
dos médicos idealizadores do projeto, que começou em Salvador nos anos 90, diz:
‘nosso trabalho não é salvar vidas e sim
transformar seres invisíveis em cidadãos’.
Atendendo um dos milhares de moradores de rua |
O
doutor Césio diz: ‘Eles podem desistir.
Quem não pode desistir somos nós’. ‘É possível levar um pouquinho para esse
povo. E isso é muuuito bom’.
E
eles têm feito isso. E olha que não é um pouquinho não. É um poucão.
Fran
foi tratada e hoje é outra pessoa. Ainda mora na rua, mas pensa em arrumar um
emprego e alugar sua casinha. Por ser moradora de rua, convive com cães e gatos
e por isso quer se tornar uma veterinária para poder cuidar dos
bichinhos.
Seu
Hugo foi convencido pelo doutor Césio a procurar um abrigo e hoje não mora mais
na rua e sim no abrigo Plínio Marcos. E deu uma diminuída no consumo de doces.
Lembra
do Anderson Sá Vieira? O drogado? Pois ele era também analfabeto. Pois bem. Hoje está internado numa
clinica de recuperação e está cursando o Mobral. Está aprendendo a ler e
escrever. Perguntado se estava feliz, respondeu sorrindo: ‘Feliz? Pô. To muito feliz. Hoje me sinto gente. Me sinto sábio. Sou
outro Anderson. O Anderson velho morreu. E tudo que sou hoje agradeço ao pessoal
do consultório de rua’.
Como
seria bom se tivéssemos mais pessoas como Valeska, Césio e tantos outros
profissionais que vêem o ser humano como ser humano. Que deixam a vaidade e o
preconceito de lado por uma causa mais do que justa e nobre: o amor pelo próximo.
O amor pela Fran, pelo seu Hugo, pelo Anderson e por tantos outros que estão
jogados pelas ruas tristes e imundas das cidades. Pessoas que não são diferentes de
nós. Pessoas que precisam de cuidados. Pessoas que precisam de amor. Pessoas
que precisam de um simples, mas sincero abraço.
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