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sábado, 19 de dezembro de 2015

Natal


Natal 
A parte do ano que ela mais gosta. É a época de rever alguns irmãos e irmãs, e claro, reunir todos os meninos. Bem, não mais tão meninos assim. Alguns já têm até filhos. Filhos dos filhos. Mais conhecidos como netos. Seus netos. Como ela ama aqueles meninos. Ah, e não podemos nos esquecer da menina. Não, não estou falando de neta porque, por mais que ela quisesse, seus filhos falharam em lhe dar uma. Estou falando da filha que ela foi buscar na Bahia. Uma menina bonitinha, que até há pouco tempo brincava de boneca.
Ela levanta cedo e vai sozinha ao mercado. Enquanto percorre o caminho sente um pouco de cansaço. Ela para perto de um carro para recuperar o fôlego. É o coração que não responde mais como na sua mocidade. No caminho recebe o cumprimento dos transeuntes que na sua maioria são amigos que, como ela, vivem no bairro há mais de 35 anos.
Fôlego recuperado, ela chega ao mercado. Apesar do horário o local encontra-se lotado. Um desavisado para perto e pergunta sobre o seu marido. Ela fica em silêncio e, respirando fundo e segurando uma lágrima, diz que ele não está mais entre eles. O homem se desculpa e sorrateiramente se afasta. Ela não o culpa. É muito recente ainda. Aquela situação inusitada, mas não inédita, a faz voltar alguns anos no tempo, quando naquele mesmo mercado, eles compravam juntos as guloseimas do Natal. Ela tem a cena bem viva em sua memória. Ela procurando o melhor pernil e ele atrás da melancia perfeita. Ela se lembra perfeitamente de quando ele pegava melancia por melancia e, como um médico examinando o paciente, meticulosamente colocava a orelha esquerda próxima a casca e fazia aquela cara de homem compenetrado. Depois dava dois tapas nela e dependendo do som emitido sabia se estava boa ou não. Ela não tinha a menor ideia se aquele ritual funcionava ou se era pura sorte, mas que ele escolhia as melhores melancias, ah escolhia.
Depois de separar um belo pedaço de pernil e frutas maduras e suculentas, dirige-se ao caixa. Conversa com uma das suas irmãs. Não de sangue, mas irmã em Cristo. Falam sobre o verdadeiro significado do Natal. Lembram do nascimento de Jesus. E depois falam sobre sua morte e ressurreição. Discorrem sobre a frieza do Natal nos dias de hoje. De como uma data tão especial se transformou em algo tão banal. A mulher do caixa a chama pelo nome. É a vez dela. Pergunta como a moça sabe o seu nome. E ela prontamente responde: e como não saber? As duas conversam enquanto a moça passa a mercadoria por uma máquina que emite um bip. E enquanto isso um rapaz novinho e com o rosto cheio de espinhas vai empacotando. Na volta para casa precisa parar mais duas vezes. Coração realmente não está aguentando mais. A qualquer momento ele pode desistir de bater. Ela só pede que não seja agora, pois quer passar mais um Natal e Ano Novo com seus meninos. Ah, e sua menina.
Já é quase meio-dia. Ela ajeita a cozinha. Panelas espalhadas na pia e sobre a mesa. Sua menina não tão menina chega da casa da amiga e percebe que ela está chorando. Pergunta o porquê daquelas lágrimas. Ela diz que é saudade do seu velho. Nesse momento ele estaria com ela, muito provavelmente descascando batatas. E cortando cebolas. E tomando sua cervejinha. A menina então abraça sua mãe e diz que está tudo bem. Ela pode chorar. Aliás, ela também começa a chorar. Depois de alguns minutos de abraços, soluços e choro, as duas decidem que precisam voltar a cozinhar. O pernil não ficará pronto no horário caso não acelerem o processo. Alguém chama no portão. É a Dorinha. Beijos, abraços, cumprimentos e... mão no pernil. Outra pessoa chama no portão. É a Raimunda. Beijos, abraços, cumprimentos e... mão na maionese. Aquele ambiente acolhedor a faz ter forças novamente. O coração volta a bater forte. Não será hoje que ele irá desistir de bater.
Fim de tarde e início de noite. As pessoas começam a chegar. Primeiro o seu irmão. Mais tarde sua irmã. Risadas altas. Hora de colocar o papo em dia. Falam bem de alguns. Mal de outros. Lembram de histórias de quando eram crianças. Lembram dos pais. Silêncio por alguns segundos. Então os filhos começam a chegar. Um a um vão tomando seu lugar na casa. E com eles chegam os netos. E com os netos chega a correria. E com a correria chega a gritaria. E as duas se juntam a alegria.
Quase meia-noite. Mesa posta. Todos a postos. Alguns minutos para o ritual de beijos, abraços, trocas de caricia e queima de fogos de artifício. Ela está cansada. Não foi um dia fácil. Ao contrário. Quer deitar um pouco. Não, quer deitar um muito. O corpo não responde mais como antes. Ele fala mais alto do que seus pensamentos. Num dia normal já estaria dormindo. Mas não hoje. Hoje não é um dia normal. Ela olha para o que está acontecendo. Não tem como não se emocionar ao ver irmãos, filhos e netos ali. Todos reunidos na sua casa. Ela gosta disso. Isso lhe dá forças para aguentar mais um pouco.
Meia-noite. FELIZ NATAL é dito e repetido por mais de 5 minutos. Muitos abraços dentro de casa. E fora de casa também. Os vizinhos se aproximam. A rua está lotada. Diferentemente do ano passado, hoje não chove. Está um clima gostoso. Depois de beijar e abraçar todos os netos, filhos, irmãos e irmãs, é hora de confraternizar com o pessoal da rua. E depois com o pessoal da rua de trás. E depois com o pessoal da rua da frente. Ela não está só. Seus filhos a acompanham. Seus netos também. E os filhos dos vizinhos. E seus netos.
Uma da manhã. Seus pés doem. Sua coluna também. Está com um pouco de dor de cabeça. Não deveria ter andado tanto. Precisa sentar um pouco. Dois filhos já foram embora. Tinham outras pessoas para abraçar. Outros dois ficaram. Ela olha para a mesa e ainda sobra mais da metade do pernil. E vários cachos de uva. Ela olha para a melancia. Está praticamente intacta. Ela então corta um pedaço. Por alguns segundos saboreia a melancia só com os olhos. E não consegue evitar. Chora novamente. A lembrança ainda é viva. Sente algo quente nas suas pernas. Olha para baixo. É o Derick. Ela o pega no colo e lhe dá um pedaço da melancia. Ele mais que depressa tira um pedaço enorme, e com a boca cheia de melancia lhe dá um beijo e diz: te amo vovó. Ela ri. Ela  chora. Ela ri e chora.
Duas da manhã. Todos se foram. E prometeram estar de volta para o almoço. Afinal, não há nada mais gostoso do que o famoso prato francês restodontê. Ela precisa descansar. O médico disse que ela não pode abusar. O coração está grande demais devido sua doença. Seria cômico senão trágico. Irônico até. Morrer por causa de um coração enorme. Mas não é isso que as mães têm? Aliás, é impossível medir o tamanho do coração de uma mãe. Ele é grande, enorme, gigantesco, colossal, descomunal, desmesurado, imenso. Ele também é magnífico, formidável, sublime, eminente, tremendo, hercúleo. E também pode ser botaréu, arcobotante, contraforte e pilar.
Ela deita. Fecha os olhos.
Ela dorme...
*****
Almerinda de Brito Reis. 
Esse é o nome dela. Bem, alguns a conheciam como Santinha. 
Ela gostava de dar presente, mas preferia estar presente.
Há uma diferença nada singela nesses verbos.
 Dar presente demanda pôr a mão no bolso e comprar.
 Estar presente demanda pôr a mão no celular e fazer uma ligação. Mas veja bem, ligar e não passar uma mensagem. Muitos hoje nem se lembram dessa função do celular.
 Dar presente demanda comprar um carro de brinquedo.
 Estar presente demanda pôr a mão no volante do carro real e visitar familiares e amigos.
 Dar presente demanda gastar tempo em shoppings, em filas quilométricas.
 Estar presente demanda passar tempo (não gastar) com familiares e amigos.
 Dar presente pode ser frustrante caso você compre algo que a pessoa não goste.
 Estar presente nunca é frustrante, pois não há ser humano que não goste de um abraço, de um afeto. E se há alguém que não goste de abraços é porque  essa pessoa não está acostumada a abraçar e ser abraçado.
Que nesse Natal você, mais do que dar um presente, que você ESTEJA presente.

FELIZ NATAL 
MERRY CHRISTMAS 

terça-feira, 17 de novembro de 2015

A razão dos irracionais



A razão dos irracionais

Treze de novembro de 2015
Paris, França

21:20
Stade de France
Ataques com homens-bomba
4 mortos

21:25
Le Carillon e Le Petit Cambodge
Ataque a tiros
14 mortos

21:32
Pizzaria La Casa Nostra
Ataque a tiros
5 mortos

21:38
Le Belle Equipe
Tiros na entrada
18 mortos

21:49
Casa de shows Bataclan
Ataque a tiros
86 mortos

Boulevard Voltaire
Tiros na via pública
2 mortos

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo

*****
  
Marcos e Pamela estão irradiantes. É a primeira vez do casal na Cidade Luz. Economizaram durante três anos e agora desfrutam da viagem dos sonhos de milhões de pessoas do mundo todo. Marcos, professor de francês de uma escola renomada do estado de São Paulo. Pamela, funcionária pública. Os dois se conheceram na escola onde Marcos leciona. Lá começou o romance e lá fizeram a promessa de que um dia iriam viajar pela Europa e o ponto inicial seria Paris.

Marcos é um rapaz paciente, mas até sua paciência tem limite.

- Vamos logo, amor.
- Calma. Já estou indo.
- Há 1 hora você diz que já está vindo e nada.
- Você me conhece. Eu demoro mesmo.
- Sim. Mas hoje você está quebrando todos os recordes.

Pamela finalmente abre a porta. Marcos olha embasbacado com tanta beleza e entende que valeu a pena ter esperado.

- E aí. Estou bonita?
- Você está linda.
- Para onde vamos?
- Para o restaurante Le Petit Cambodge.
- É bom?
- Ouvi dizer que sim.
- Não vejo a hora de comer comida francesa.... Na França. Mais especificamente em Paris.
- Eu também não vejo a hora. Quero comer desde que assisti ao filme Ratatouille. Lembra?
- Como iria me esquecer? O ratinho é um verdadeiro MasterChef. Agora, venha aqui.

Marcos puxa Pamela delicadamente pelo braço e lhe dá um beijo como há muito não dava. Então, próximo ao ouvido dela ele sussurra.

- Esse dia será especial. Será inesquecível.

Não muito longe dali, Ahamed faz uma oração. Ele pede a Alá que o proteja e que o ajude a cumprir sua missão. Ele está ansioso. Assim como Marcos e Pamela, ele também aguarda por esse momento desde quando era criancinha. Sempre sonhou em morrer por Alá e junto varrer da Terra os infiéis e depois, ao chegar ao paraíso, ser recepcionado por 77 virgens. Não há coisa mais maravilhosa.

Ahamed cresceu achando que iria se sacrificar usando uma bomba, mas foi avisado pelos superiores que iria utilizar uma metralhadora.

- Ahamed, preparado?
- Sim.
- Alá é contigo. Ele te ajudará.
- Sim.
- Ele ficará muito grato por matar aqueles que deterioram sua palavra.
- Sim.

Ahamed está tão ansioso que só sabe dizer ‘sim’. Ele recebe dois beijos no rosto e um na testa. Nesse momento ele está pensando na família que está na Síria. Gostaria tanto que sua mãe estivesse viva para vê-lo triunfar diante do mal. O mundo saberia quem ele é e da forma mais terrível.

Marcos e Pamela estão sentados próximos da janela. Ele escolheu bem o local da mesa. E também o restaurante. O ambiente é agradável e diferente do que ouviu falar, os franceses têm sido bem atenciosos e educados com ele. Ele está muito feliz, pois consegue se comunicar em francês com muita facilidade.

Ele olha para Pamela e se sente um homem de sorte. Pamela olha de volta e pensa que ela sim é uma mulher de sorte. Os dois pegam o menu e escolhem o vinho que irão degustar. Marcos chama o garçom, quando ouve um barulho. Parece ser um tiro. Passados cinco segundos, mais barulho. Mais tiro. Ele pula para o lado de Pamela. Precisa protegê-la. Os dois então se escondem debaixo da mesa. Um menino com uma metralhadora na mão começa a falar numa língua que ninguém entende.

- Oh Meu Deus. O que está acontecendo?
- Não sei querida. Mas tente ficar calma. Tente não fazer barulho.
- Não fazer barulho??? Mas como???
- Calma, porque senão eles...

 O menino, que não dever ter mais do que 17 anos, dá um chute na mesa, expondo Marcos e Pamela. Ela então começa a gritar. E em bom francês Ahamed diz:

- Peça para essa vadia insolente ficar quieta.
- Você fala francês?
- Sim. E inglês. E espanhol. E alemão. E um pouco de português. Agora, peça para ela calar a boca.

Marcos olha para Pamela que está com a maquiagem toda borrada de tanto chorar. Ele a puxa para o seu lado e no seu ouvido diz algo que a deixa mais calma. O que ele disse? Nunca saberemos, pois no momento que ele para de sussurrar, Ahamed aponta a metralhadora e sem piscar fuzila os dois. E ali, debaixo da mesa de um restaurante em Paris, termina o que era o começo.

Marcos ainda tenta dizer algo, mas não dá tempo. Ele consegue apenas gritar o início da palavra não, algo como Nãããão. Pamela recebe o primeiro tiro e é ele que tira sua vida. Os outros não fazem efeito, a não ser deixar o vermelho do sangue mais vermelho, lavando o vestido que comprou numa das lojas mais chiques de Paris. Marcos, antes de fechar os olhos para não abrir mais, consegue chegar próximo de Pamela. E então a abraça como se tivesse revestido de armadura, na vã tentativa de protegê-la dos tiros. Ledo engano. As balas atravessam as suas costas, e no caminho encontram os pulmões e os rins. Marcos não respira mais e ali fica, parado, num abraço que remete a uma cena que seria muito bonita não fosse o motivo que levou àquele abraço.

Pessoas vendo o que aconteceu ao casal saem correndo, desesperados e sem direção, como baratas quando estão acuadas. Ahamed, como um exterminador, vai atirando e enquanto atira pensa em Alá e nas 77 virgens que o aguardam na porta do paraíso.

*****

Essa história é fictícia, porém semelhanças com o que aconteceu na França não é mera coincidência. Muito se escreve e se fala sobre o ocorrido: fanatismo religioso? Estupidez? Falta de amor? Excesso de ódio? Intolerância? Bem, fico com todas as alternativas acima. Tenho certeza absoluta de que Deus não está nem um pouco feliz com os últimos acontecimentos. E Ele deve ficar mais triste quando vê pessoas usando o seu nome para ceifar vidas. 

Os ataques nos deixam perplexos e nos fazem pensar: até onde vai a irracionalidade do ser humano? 

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Dia dos professores



Quinze de Outubro

Não sei você, mas os dias que me trazem as melhores recordações da minha infância são aqueles que passei na escola.

Lembro com muito carinho e saudade dos meus amigos. Fazíamos quase tudo juntos. Juntos preparávamos os exercícios de casa. Juntos fazíamos os trabalhos. Juntos jogávamos bola durante a aula de Educação Física. Lembro que o professor quase sempre deixava a escolha do esporte que iríamos praticar em nossas mãos. Com uma bola de basquete na mão esquerda e uma de futebol de salão na mão direita ele fazia a pergunta clássica: “Qual?”. Em 120% das vezes a bola de futebol de salão saía vencedora.

Um dos momentos mais esperados por todos era a hora do intervalo.  Lembro das brincadeiras no pátio. Era um tal de corre corre que deixava a inspetora Silvia de cabelo em pé. E as merendas então? Pão com salsicha e suco de laranja; arroz e frango; bolacha doce e café com leite; bolacha salgada e leite com chocolate; maça. Todos reunidos ali, comendo, conversando, jogando bolacha um no outro, para depois nos levantarmos e juntos corrermos pelos corredores da escola brincando de pega a pega. E a inspetora Silvia atrás de nós. “Parem de correr. Vocês acabaram de comer. Que teimosia, meu Deus. Pareeem de correeeer.”

Como não sentir saudades dessa época? Como não sentir saudades do arroz com frango, das brincadeiras, da inspetora Silvia? E como não sentir saudades daqueles que ajudaram a formar o meu caráter? Daqueles que por muitas vezes me elogiaram (momento modéstia) e algumas outras poucas vezes puxaram minha orelha. Não literalmente, claro, apesar de alguns expressarem uma vontade enorme de fazê-lo. Como não sentir saudades dela que foi minha musa inspiradora? Ela era tudo. Quantas noites eu não perdi devaneando sobre nós? Nos imaginando juntos, entrando no altar – peralá, o noivo entra primeiro e depois a noiva – mas enfim, no meu sonho nós entravamos juntos. De mãos dadas. E nos bancos, meus amigos, todos com 12 anos, gritando nosso nome. Me lembro dela me dando um pequeno tapa na cabeça, dizendo: “Edson, acorda menino. Levante-se e conjugue o verbo pentear no Futuro do Pretérito do Indicativo. E depois no Imperfeito do Subjuntivo”. E eu sem pestanejar, concentrado, com meu cabelo de índio penteado, conjugava o verbo pentear no Futuro do Pretérito do Indicativo. E depois no Imperfeito do Subjuntivo. E ao término de cada conjugação eu olhava para ela, esperando a sua aprovação. E ali estava. Então sentava novamente e voltava a devanear. Passados alguns anos eu ainda consigo ver aquele sorriso. Porem, não me peça para conjugar o verbo pentear no Futuro do Pretérito do Indicativo e depois no Imperfeito do Subjuntivo porque eu simplesmente não sei.

Mas minha musa não era a única. Lembro também do meu professor de Matemática, um bigodudo. Da minha professora japonesa de Geografia. Lembro bem do dia que ela pediu que desenhássemos o mapa do Brasil. Naquela época Tocantins ainda não fazia parte do território brasileiro. E lembro que ela escreveu um ‘excelente’ no meu mapa (momento modéstia 2).

Por que será que depois de alguns anos (sim, alguns e não muitos) eu ainda me lembro desses professores? A resposta é simples: eles fizeram parte da minha vida, da minha educação. E eu os admirava demais. Ah, um outro professor que eu admirava muito era o meu teacher. Sim, o meu professor de inglês do CNA. Ele era muito bom e tinha um inglês espetacular. E me lembro que eu não perdia uma aula dele. E me pegava pensando: “Um dia vou falar inglês como ele. Um dia vou dar aula como ele”.

Você em algum momento já se pegou falando isso? Ou já se pegou pensando nos seus professores da época do maternal? Ou da época do 1º grau? Ou da época do colégio? Ou até mesmo da época da faculdade? Tenho certeza absoluta que sim. Todos nós temos nossos professores preferidos. E temos também aqueles de quem não gostávamos. Faz parte. Ninguém é unânime. Ninguém consegue agradar a todos. E isso se chama diversidade. O que é bom, legal, magistral, sensacional para mim pode ser indiferente, chato, ruim para você. Mas em uma coisa pelo menos nós concordamos. A profissão de professor é uma das mais belas desse nosso Brasil.

Infelizmente, apesar da beleza, é uma profissão desvalorizada, subestimada. A grande maioria dos professores recebe um salário indigno. Muitos são insultados pelos adolescentes de hoje em dia que não têm o mínimo de educação. Muitos reclamam da estrutura física das escolas, com carteiras e cadeiras caindo aos pedaços. Olhando para esse quadro é possível imaginar muitos professores arrependidos de terem se formado em Letras. Poderiam estar ganhando dinheiro como advogados ou engenheiros. Mas o que se vê é o contrário. Eles continuam de pé. Continuam aguentando desaforo de adolescentes mal educados. Continuam aguentando salários baixos. Continuam aguentando a indiferença do governo. E por quê? Porque amam o que fazem. Porque não se vêem fazendo outra coisa. Porque o que os faz feliz não é o salário no fim do mês, que é importante, mas saber que estão ajudando pessoas a realizar sonhos.

Para você que valoriza o trabalho do seu professor, dê-lhe um abraço e diga que ele é importante. Tenho certeza que essas palavras irão incentivá-lo a continuar estudando, se empenhando em melhorar as aulas. E o melhor beneficiado será você.

Para você caro professor, não importa se você leciona em uma escola pública ou particular. Se você da aula num cursinho ou em uma faculdade renomada. Se você é professor de inglês ou de espanhol. Não importa se você é chamado de professor, teacher, fesso, tio ou tia. O que importa é que você tem uma das profissionais mais belas do mundo. Sei que a situação atual é feia e que muitas vezes bate aquela tristeza. Bem, quando estiver desanimado, levante e cabeça e lembre-se que o que você ensinou está sendo usado por alguém em algum lugar desse nosso mundão. E o mais legal, alguém em algum lugar desse mundão está pensando em você e o está agradecendo.

E para vocês governantes, parem de desfalcar, defraudar, afanar, surrupiar, limpar e rapinar os cofres públicos. O dinheiro que está lá provem do povo e deve ser gasto para o bem do povo. E não há bem maior do que investir na educação. Nosso país seria um lugar muito melhor e mais digno para se viver se nossos professores tivessem mais recursos para ensinar e ganhassem um salário digno. Tenho certeza que vocês governantes tiveram professores excelentes e nenhum deles os ensinou a arte da corrupção. A arte da indiferença.

Bem, escrevo esse texto para expressar aqui o meu MUITO OBRIGADO a todos os professores que passaram pela minha vida, e estendo os PARABÉNS para TODOS 

OS PROFESSORES DO BRASIL!!!


!!!PARABÉNS PROFESSORES, TEACHERS, FESSORES, TIOS E TIAS!!!

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

MOM ALIEN



*   w02W'WOW 1^1V29 *ttt3OfA  Ol,aliens,mom,predator

Which word can we use to describe moms? Using just one word is simply impossible. That's why people usually use words such as lovely, caring, beautiful, understanding, hard-working, warm, patient, happy, helpful, imaginative, tender, dynamic, inspiring, brave, romantic, pleasant, passionate, cute, imaginative, wonderful, protective, intelligent, generous, strong, kind, gentle, sweet, determined, faithful, holy, loved etc.

I myself thought about a way to describe this person so called mom. I call her: SUPEPOWERFUL ALIEN. That’s what she is. No doubts about it.  There’s no way she is a human being. A normal human being does not love as she does. A normal human being does not care as she does. A normal human being does not forgive as she does. A normal human being does not fight and believes in her fights as she does.

This SUPERPOWERFUL ALIEN can see and anticipate everything. I remember once I was running, just running, nothing more than that, just running when my mom said: ‘Edson. Stop running. You are going to fall.’ I don't remember how long... Maybe 3 or 5 seconds after those prophetic words and... BANG... I fell. Gosh. How did she know that?

A mom knows everything:

- she knows when you are happy. 
- she knows when you are sad. 
- she knows when you are lying. 
- she knows when you are telling the truth. 
- she knows when you are in love. 
- she knows when you are depressed because of love. 
- she knows when you are hiding something. 
- she knows when you want to talk
- she knows when you are in trouble. 
- she knows when all you need is silence.

Another sense that just a mom has is the sense of sacrifice. This being is willing to do whatever it takes to save her son. She will donate any organ to her son in case he needs. She will jump in a river to save her son’s life even though she doesn’t swim. She will jump in front of a vehicle if she has to. And it doesn’t matter if it is a beetle or a truck. She will jump. She will steal if she has to in order to feed her son. She will make a fuss in a hospital if her son needs immediate care. She will fight against anyone who says any little thing about her son. She will spend the whole night at the hospital and will leave just when her son seems to be better. But when she sees her son smiling again, fooling around,  she will think: “what a sweet sacrifice”.

I used to think that a mom is a perfect person, but I was wrong. I have learned that this being suffers from vision problems (myopia). In her opinion she has the most beautiful and amazing son in the whole world. It doesn’t matter how ugly he is, how fat or thin he is, how tall or short he is, if he is black or white or yellow. Those things don’t matter. They are just appearances. Her son is the greatest son on Earth. If you tell her different, you are going to start a fight. And be prepared because you are going to lose.

All this love, care, kindness and forgiveness make me think. Do moms go to hell when they die? I don’t think so. They can’t go to hell. Not after doing what they do. 

I am pretty sure there is a special place that God has reserved for these SUPERPOWERFUL ALIENS.


domingo, 9 de agosto de 2015

Happy Father's Day



A Man talking to his Father.

- Excuse me. May I come in?

- Sure. Come on in.

- How are you today?

- Same old same old.

- Good… good.

- What can I do for you, son?

- I am sorry.

- Sorry for what?

- For lying to you. For disobeying. For doing things that I was not supposed to do. For going to places I was not supposed to go.

- That’s ok, son.

- No, that’s definitely not ok. I screwed up.

- Yes, you did. You screwed up big time.

- Can you forgive me?

- Sure. I have already. Come here, give me a hug.

- Father?

- What?

- Can I ask you a question?

- Yes.

- Do you still love me?

- OF COURSE.

- I mean, after everything I’ve done?

- Yes. But I have to confess something.

- What?

- Sometimes you make it really hard to love you.

- Really? When do I do that?

- When you mistreat each other. When you fight each other, humiliate each other, harm and kill each other. When you show racism and intolerance. When you rape your women. Worse, when you rape your children. CHILDREN.

- Why don’t you help us?

- I try to help but you say you don’t need me. You say you can live without me. You say I don’t even exist.

Silence…

- But there are moments that you make it easy for me to love you.

- When is that?

- When you love each other. When you show mercy and forgiveness. When you help each other at home, at work, even people on the street that you don’t know.

- Yeah. We do that sometimes, right?

- But do you know what really warms my heart? It is when you obey me. When you do what I tell you to do. And do you know why?

- Why?

- Because I know what is good for you. You may not believe it. You may think what I say is crazy, old-fashioned, stupid, non-sense but I will tell what. Your life will be much better if you do what I tell you to do.

- But it is hard. It is difficult. There are so many things that distract us.

- Well, I never said it would be easy.

- No. You never said that.

- Son, listen to me. I LOVE YOU. I always have and I always will. There is not a single creation that is more important than you. And I love you so much that I gave you the free will, so you don’t have to feel obligated to love me back. What I give you is real love and what I ask you back is real love too.

- But like I said before it is hard for me. I don’t have your strength. I am weak.

- I know. But obey me and I will make you stronger. Together we will live a wonderful journey. One that you will never forget.

The Man in tears hugs his Father.

- I love you too, Daddy.

-  I know. Now go.

- Ok. Bye.

- Bye, son.

When the Man is gone…

- Jesus… Jesus… come here.

- Here I am.

- Wow. That was fast.

- I was nearby.

- You are always nearby.

- why did you call me, Dad?

- Because I need you to keep an eye in Adam. Be with him. Advise him. Help him.

- Ok, Dad. That would be my pleasure.

- Now, leave me alone.

- Dad.

- Yes.

!!! HAPPY FATHER’S day


sábado, 1 de agosto de 2015

Ela toca

Ela toca.

Fran abraça a doutora Valeska. 
Não sou fã dos programas da rede Globo. Dificilmente sintonizo na tela do plim plim. Porém há um programa que vez e outra eu assisto: Fantástico. E sempre que assisto sou brindado com uma matéria interessante e muitas vezes tocante. E não foi diferente agora.

No programa do dia 26/07/15 foi exibido uma matéria sobre um projeto chamado Consultório na Rua.

A ideia do projeto é levar assistência médica e social a quem mora nas ruas e ele é de responsabilidade das prefeituras e financiado pelo Ministério da Saúde. Pois é. Nem tudo que vem do governo é ruim.

Há mais de 140 consultórios espalhados em 80 cidades brasileiras. Mas ainda é pouco frente o universo de mais de 500 mil moradores de rua. O ideal seria haver um consultório para cada município do Brasil e estamos falando de mais de 5.500 municípios em todo território.

Mas o texto não é para falar das mazelas do nosso amado Brasil. Textos maldizendo nosso país há mais de centenas por aí. Hoje falaremos de coisas boas: cuidado, zelo, paixão pela profissão, amor pelo próximo.

O que me chamou a atenção foi a frase dita pela moradora de rua Franciane da Cruz. Alias é a frase que dá título ao texto. Fran é moradora de rua desde o nascimento e hoje já está com 21 anos de vida. Ela diz com os olhos cheios de lagrimas que a doutora que cuida dela, que a visita, a pega pelo braço, conversa com ela, bem, essa doutora é diferente dos outros médicos. ‘Ela te olha... Ela te cuida... Ela toca... Ela dá esperança’.

Van utilizada pela equipe do Consultório na Rua

A tal doutora que toca é Valeska Antunes. Ela sai do hospital, vai até onde Fran está, conversa mostrando total e real interesse, dá instruções e recomendações e leva Fran até o hospital para melhores cuidados.

Outro personagem do programa é Hugo Alberto da Silva, conhecido como seu Hugo, é um senhor de mais de 70 anos que não nasceu na rua, mas foi parar lá por causa de um conflito de família. Seu Hugo adora doces e tem suspeita de estar com diabetes. Seu Césio, conhecido também como Dr. Césio Sotero, demonstra a maior paciência do mundo com seu Hugo, explicando detalhadamente quando e como tomar cada remédio. As palavras do Seu Hugo para descrever seu Césio: ‘Esse doutor mesmo eu gosto dele a pampa. Porque ele é bom, trata a gente bem.’

Anderson Sá Vieira é um caso clássico. Foi morar na rua devido o uso de drogas. Entrou no mundo maldito e não conseguiu sair. Acabou sendo expulso de casa pela família. Durante dois anos ficou perambulando pelas ruas da cidade maravilhosa e um dia recebeu um abraço de um dos médicos do Consultório na Rua. Anderson diz que esse gesto mudou sua vida. ‘Eu vivia na rua e dificilmente tomava banho. Então eles vieram e me abraçaram como se eu fosse da família deles’.

Você já sentiu o cheiro de uma pessoa que fica um dia sem tomar banho? E dois dias então? E semanas? Você abraçaria uma pessoa assim? Eu muito provavelmente não abraçaria. Acredito que você também não. Pois é nesse gesto simples que está toda a diferença.

A equipe que trabalha no consultório de rua literalmente abraça a causa. Eles vão até as pessoas necessitadas. Em lugares onde eu e você passamos a largo. Eles conversam com pessoas esquecidas pela sociedade.

Um dos médicos idealizadores do projeto, que começou em Salvador nos anos 90, diz: ‘nosso trabalho não é salvar vidas e sim transformar seres invisíveis em cidadãos’.

Atendendo um dos milhares de moradores de rua

O doutor Césio diz: ‘Eles podem desistir. Quem não pode desistir somos nós’. ‘É possível levar um pouquinho para esse povo. E isso é muuuito bom’.

E eles têm feito isso. E olha que não é um pouquinho não. É um poucão.

Fran foi tratada e hoje é outra pessoa. Ainda mora na rua, mas pensa em arrumar um emprego e alugar sua casinha. Por ser moradora de rua, convive com cães e gatos e por isso quer se tornar uma veterinária para poder cuidar dos bichinhos.

Seu Hugo foi convencido pelo doutor Césio a procurar um abrigo e hoje não mora mais na rua e sim no abrigo Plínio Marcos. E deu uma diminuída no consumo de doces.

Lembra do Anderson Sá Vieira? O drogado? Pois ele era também  analfabeto. Pois bem. Hoje está internado numa clinica de recuperação e está cursando o Mobral. Está aprendendo a ler e escrever. Perguntado se estava feliz, respondeu sorrindo: ‘Feliz? Pô. To muito feliz. Hoje me sinto gente. Me sinto sábio. Sou outro Anderson. O Anderson velho morreu. E tudo que sou hoje agradeço ao pessoal do consultório de rua’.

Como seria bom se tivéssemos mais pessoas como Valeska, Césio e tantos outros profissionais que vêem o ser humano como ser humano. Que deixam a vaidade e o preconceito de lado por uma causa mais do que justa e nobre: o amor pelo próximo. O amor pela Fran, pelo seu Hugo, pelo Anderson e por tantos outros que estão jogados pelas ruas tristes e imundas das cidades. Pessoas que não são diferentes de nós. Pessoas que precisam de cuidados. Pessoas que precisam de amor. Pessoas que precisam de um simples, mas sincero abraço.