Vera não foi trabalhar hoje. Aliás, não
trabalha há duas semanas. Recebeu licença por conta de um acontecimento muito
triste que mexeu não somente com ela, mas com toda a cidade.
(Acidente)
Vera está no seu recinto de trabalho, mais
conhecido como sala de aula, quando percebe que um dos alunos não está
prestando atenção, pois está ouvindo música, algo proibido durante a aula.
Ela se aproxima e pede educadamente que o
aluno desligue o aparelho celular, o que ele enfaticamente nega. Ela, na sua inocência,
toca no ombro do aluno que, abruptamente, segura sua mão e aperta fortemente.
Isso chama a atenção dos outros alunos que
param suas atividades para olhar o que está acontecendo. Vera, com a mão
machucada, pede calma ao menino que, aos gritos está saboreando os cinco
minutos de fama.
Alguns alunos tentam acalmar os ânimos enquanto
outros filmam a patética cena. Nesse meio tempo, um grupo grita ‘briga, briga,
briga’ e começam a bater nas carteiras fazendo um barulho ensurdecedor.
O caos está instalado na sala e, empoderado
pelos gritos e barulho das carteiras, o menino se levanta e começa a empurrar
Vera que tenta se afastar, mas o menino a agarra pelo avental e lhe desfere um
soco.
Vera vê tudo escurecer e não ouve mais nada. A
dor é intensa, como nunca havia sentido antes. Lágrimas começam a cair dos seus
olhos. Porém, não são lágrimas de tristeza e sim de incredulidade.
Passados alguns minutos, dois professores que
ouvem a algazarra veem em socorro e levam Vera para a enfermaria e o menino
para a diretoria. Ela ganha um galo imenso na cabeça e ele duas semanas de
suspensão.
Esse acontecimento vira assunto na cidade por
semanas. Programas de televisão exploram ao máximo o tema violência. Alguns de
forma séria enquanto outros bem sensacionalistas.
Vera vai a alguns deles, ganhando assim uma
indesejada notoriedade. Lá dá sua versão dos fatos e, junto com especialistas,
tentam buscar a resposta para a simples e ao mesmo tempo complexa pergunta: por
que?
Muito se debate e duas coisas ficam claras: 1.
O problema está no governo que não investe em educação. 2. O problema está na
família que não educa os filhos em casa, transferindo a responsabilidade para o
estado.
Outras variáveis aparecem. Há muita controvérsia
a respeito da solução para que situações como essa, que são cada vez mais
comuns nas escolas de todo país, não ocorram mais.
Bete, uma das professoras da escola e grande
amiga de Vera, sabendo que ela não estará na escola, resolve pedir para os
alunos escreverem uma mensagem, o que irá deixar Vera muito feliz.
Como Vera é uma professora muito querida, muitos
alunos escrevem. Bem, não será possível mostrar todas as mensagens, mas algumas
estão aqui separadas para o seu deleite. São elas...
“Querida professora. Estava eu ouvindo a
quinta sinfonia de Bach quando lembrei do que Einstein disse a respeito dos
professores. ‘A maioria dos professores desperdiça seu tempo ao fazer perguntas que
têm por objetivo descobrir o que um aluno não sabe, enquanto a verdadeira arte
de fazer perguntas é descobrir o que o aluno sabe e o que é capaz de saber’. Acredito piamente que essa frase descreve bem quem é
Vera, a professora referida nessa nota. E é com esse espírito, com o aval daquele
que é o maior cientista de todos os tempos, que desejo-lhe um Estimado Dia dos
Mestres”.
Mara,
a intelectual.
“Querida professora Vera. Fiquei muito feliz
quando me pediram para escrever uma pequena nota nesse dia tão especial. Espero
do fundo do coração que tudo de bom aconteça para a senhora não somente hoje,
mas amanhã também, e depois de amanhã, e nos outros 364 dias do ano. Afinal de
contas, todo dia é dia, não é verdade? Me desculpa porque não deu para comprar
um presente. Eu usei todo o dinheiro da minha mesada para comprar o jogo novo
do God of War. Mas prometo que ano
que vem tem presente. Feliz Aniversário, professora!!!”
José, o confuso.
“Querida tia Vera. O que dizer? Palavras não
podem e não conseguem, por mais que tentem, expressar o quão profundo é meu
amor por ti. Acordo pensado em ti e quando vejo o dia passou, a noite chegou e,
ao deitar, ainda estou com você nos meus pensamentos. Sonho com você me
ensinando a conjugação do verbo pentear no pretérito imperfeito (estava deitado enquanto vós penteáveis meus
cabelos). Sonho também com você me explicando a equação do terceiro grau.
Sonho com os seus lábios, o seu sorriso, as suas mãos, e com todo o seu corpo que
se pudesse conjugar seria mais que perfeito. Para você, mais que querida Vera,
um Feliz Dia dos Professores junto com um beijo”.
Paulo, o incontrolavelmente
apaixonado.
“Ti-ti-ti-ti-aaaaa!!! Fe-fe-feeeeeee-liizzzz
Di-didi-diiii-a doooooos Pro-propro-prooo-fessooooo-reees!!! Te-teeeeee Amo!!!!”
Marcos, o gago.
“Dear teacher Vera! I love you! Congratulations on your day!”
Antony, o
bílingue.
“Querida professorinha. Que alegriazinha estou
sentindo nesse diazinho tão especialzinho. A senhorinha é demais, viu? Se eu
tiver só um pouquinho desse amorzinho que exala desse seu coraçãozinho, eu já
serei uma pessoa felizinha. Obrigadinha por gastar seu tempinho preciosinho
comigo e com meus amiguinhos. Feliz Dia dos Professores, minha professorinha
lindinha!!!”
Marcinha, a
fofinha, bonitinha e boazinha que usa tudinho no diminutivozinho
“Olha só! Não estava muito a fim de escrever
nada não, mas me obrigaram. Bem, não gosto da senhora não, e nunca que iria
escrever pra você, porém disseram pra eu mentir e escrever qualquer coisa. Pois
aí está! Feliz... feliz... dia... Aaaargh... não consigo proferir tais
palavras, pois não condizem com o que eu realmente sinto! Aliás, tem nada a ver
esse negócio de dia dos professores. Tínhamos que celebrar sim o dia do aluno,
pois é um saco ter que aturar vocês professores. Quer saber, desejo um Triste Dia
do Professor. Pronto, falei”.
David, o sincero.
“Querida... snif-snif... professora! Eu... snif-snif...
quero muito lhe... snif-snif...
desejar um... Feliz... Dia... dos... buaaaaaaaaa...
eu num guento... buaaaaaaaaa...”
Ana, a chorona
“Na escola a professora está explicando presente,
passado e futuro.
- Se digo que fui rica, isso é passado, ok? Mariazinha, se digo que serei diretora, isso é...?
- Futuro, professora.
- Muito bem! Joãozinho, se digo que sou bonita, isso é...?
- Mentira, professora”!
Joãozinho, o
engraçado, também conhecido como fanfarrão.
Bete olha para Vera e ela está com um largo
sorriso no rosto, ao mesmo tempo que tem os olhos lacrimejados. Ela então
coloca os papéis sobre a mesa e dá um longo e carinhoso abraço em Bete.
Bete pergunta como sua amiga está, se ela
pretende parar depois do que aconteceu. Vera simplesmente olha para sua amiga
depois de limpar as lágrimas e diz: Parar??? NUNCA!!!
Vera está triste com a situação? Claro que
sim. Quem não estaria? Porém, a tristeza daquele dia não irá apagar a alegria
de todos os outros. E as mensagens só corroboram a importância dela para
aquelas crianças.
FELIZ DIA DOS PROFESSORES