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sábado, 13 de fevereiro de 2016

Educação começa em casa



- Meu Deus. To com medo cara.
- Tá com medinho volta pra casa. O negócio aqui é pra macho.
- Eu sei. Mas eu nunca fiz isso antes.
- Eu já. Por isso fica tranquilo e faz tudo que te falei.
- Putz. Que emoção.
- CACETE !!! Cê tá com medo ou tá emocionado? Decide.
- Sei lá. To os dois. É muita adrenalina. Olha só... to tremendo.
- Que horas são?
- 11.15
- Tá na hora. Você sabe o que vai fazer, certo? Eu entro primeiro e depois você... Ei... Ei... to falando com você. O que você tá fazendo?
- Silêncio. To orando.
- Cê tá o que????
- To orando. Pedindo proteção aos céus. Pedindo pra tudo dar certo.
- You’ve got to be kidding me.
- O que você falou?
- Eu falei que você deve estar de brincadeira.
- Nossa. Cê fala inglês tão legal. Parece os gringo. Onde você aprendeu a falar inglês?
- Na Dreaming School.
- Orraaa. Fiquei sabendo que essa escola é dez.
-É sim. É muito boa. Mas cê precisa ralar viu. É muito homework.
- Muito home o que?
- Homework.
- Que merda é essa? 
- Lição de casa. Home: casa. Work: trabalho.
- Peralá. É lição de casa ou lição do trabalho? Agora to confuso.
- É lição de casa, pô. Se escreve homework, mas traduzimos como... AAAAAAHHHH... Isso não importa agora. 
- E os professores lá? São bons?
- Os melhores. Tem um tal de Edson. O cara é animal.
- Animal??? Por quê animal? Por que ele é bom?
- Não. É porque ele é feio mesmo. Meu Deus, que cara feio. Mas tem a professora Fabis. Animal também.
- Por quê? Ela é feia?
- Não, mané. Ela é bonita. Quero dizer que ela é é boa professora.
- Ah tá.
- Agora chega desse papo. Ready?
- Hããã?
- Pronto?
- Sim.
- Então tá. Vou contar até 3. 
- Em inglês ou português? Eu sei contar até dez em inglês. One, two, three...
- NÃÃÃO. Em português. 
- Ok. Não precisa ficar nervoso.
- Vamos lá. Concentração. 1... 2... 3
- TODO MUNDO QUIETO. ISSO É UM ASSALTO PORRA. QUEM SE MEXER VAI TOMAR BALA NA CARA. E EU NÃO TO BRINCANDO NÃO. VOCÊ AÍ. PARADO. E VOCÊ TIOZINHO. PASSA A ARMA PRA CÁ. AGORA.
- Uma coisa que eu nunca consegui entender. Por que eles contratam esses tiozinhos fim de carreira para proteger o banco? Olha esse aqui. Não aguenta nem um pum.
- Sei lá meu. Vai lá atrás com o gerente e abre o cofre.
- O GERENTE FILHO DA MÃE. VEM AQUI AGORA PORRA. VOCÊ VAI ABRIR A MERDA DO COFRE PRA MIM E VAI... PERAÍ... O QUE VC TÁ FAZENDO? TÁ CHORANDO??? VEM AQUI. Calma rapaz. Vai dar tudo certo. O banco tem seguro. Vem aqui vem. Me da um abraço.
- QUE MERDA CÊ TÁ FAZENDO?
- O cara tá nervoso. Olha só... tá tremendo que nem vara verde.
- Meu Deus do céu. Eu não acredito isso. VAI LOGO PRO COFRE E PEGA A GRANA CACETE.
- Já to indo. Nossa que stress. Vai recolhendo os celulares enquanto eu abro o cofre.
- Beleza. TODO MUNDO. OLHANDO PRA MIM. EU VOU PASSAR A SACOLINHA E VOCÊ VAI COLOCAR A SUA CARTEIRA E O SEU CELULAR DENTRO . TÃO OUVINDO? Ótimo. Muito bom. Carteira feia hein rapa. Coro do Paraguai. E essa aqui? Gordinha hein. Muito bem. Continuem colaborando e todos sairão vivos daqui. Olha aqui. Só celulares de ponta: Iphone, Galaxy, LG3... e esse aqui? Que celular é esse? Parece um iphone. Peralá... não acredito nisso... é um HIPHONE. Quem colocou essa merda aqui no saco? Eu quero saber agora porque eu vou dar um tiro nesse filho da mãe. HIPHONE... Cê tá de brincadeira comigo. E AÍ? QUEM É O DONO DESSE HIPHONE? Ah, é você querida. Qual seu nome? Fabiana? Você acha isso bonito, Fabiana. Comprar um HIPHONE? Ah, você achou que era um iphone? Ah, você achou que era promoção do Iphone. MEU DEUS. SAI DAQUI FABIANA, ANTES QUE EU FAÇA UMA BESTEIRA. HIPHONE... ela teve a cara de pau de comprar um Hiphone. Era só o que me faltava. EI MANO. E aí atrás? Tudo certo?
- Beleza. Peguei a grana. Vamobora.
- Ah moleque. Tamo rico. Não vamos precisar trabalhar nunca mais.
- Mas a gente não trabalha.
- Ah é. Sei lá. Vamos poder andar de kart por muitos e muitos anos na faixa. Yes... Uhuuuuuuuuuuuu... Vamobora.
- Peralá.
- O que foi?
- Vem vindo uma senhora na nossa direção. O que será que ela quer?
- Não sei. Vai vê ela quer um autógrafo. Kkkkkk... Epa... Eu conheço essa senhora.
- Conhece? Quem é?
- É minha mãe.
- O QUE?
- Não acredito. É minha mãe. O que ela tá fazendo aqui?
- Sei lá. Mas disfarça. Cê tá de mascara. Ela não vai te reconhecer.
- MINHA SENHORA. PRA TRÁS SENÃO EU ATIRO.
- Zequinha, é você?
- QUE MANÉ ZEQUINHA. NÃO TEM ZECA NENHUM AQUI. A SENHORA TÁ DOIDA. PRA TRÁS.
- Zequinha meu filho. Não acredito. É você mesmo.
- Mãe, para de me chamar de Zequinha. Eu já falei que não gosto.
- E daí? Eu gosto. Você é o meu Zequinha e ponto final.
- Ai mãe. Como a senhora sabia que era eu?
- Como? Eu sou tua mãe rapaz. Eu te conheço a quilômetros de distância. Você saiu da onde?
- O que?
- Você saiu da onde? De qual buraco? Quem te carregou nove meses no bucho? Quem teve ânsia de vômitos durante quase a todo gravidez?
- Você mãe. Agora me diz, o que a senhora tá fazendo aqui?
- Algo me dizia que você estava numa enrascada.
- PQP. A senhora é fogo mesmo, hein.
(tapa na cara)
- POR QUE A SENHORA ME BATEU?
- Já falei pra não falar palavrão. Que coisa mais feia.
- Desculpa mãe.
- Ta desculpado. Agora tira a mascara.
- MAS MÃE. AS CÂMERAS.
- Não quero saber. Tira a mascara.
- Tá bom.
- Olha pra você. Um menino tão lindo e escondendo o rosto.
- ZECA. PÕE A MASCARA PORRA.
(tapa na cara)
- HEEEEEEY... PORQUE A SENHORA ME BATEU?
- Já falei que não gosto de palavrão.
- Mas eu não sou seu filho. Você não pode me bater.
- Exatamente moleque. Se você fosse meu filho eu ia arrancar seu coro agora. Levando meu filho pro mau caminho. Cadê sua mãe?
- Trabalhando.
- Você acha certo isso? Ela trabalhando, se matando para te sustentar e você aqui roubando um banco.
- Mas é que...
- Mas é que nada. Tira sua mascara também.
- MÃE. Nós já tá saindo do banco.
(tapa na cara)
- PORQUE EU APANHEI AGORA?
- Nós já tá??? Nós já tá??? Qual o certo Zeca?
- Nós estamos.
- Não ouvi.
- NÓS ESTAMOS.
- Muito bem. Não estou pagando colégio caro pra você ficar falando errado.
- PQP DONA. A GENTE...
(tapa na cara)
- Nossa. Para de me bater. E outra. A gente só queria um dinheirinho para gastar com as mina. Quero dizer, com AS GAROTAS.
- Quer dinheiro fácil? Vira professor de inglês. Eles ganham dinheiro fácil fácil.  Vocês têm é que estudar e muito. Se formar e depois ir atrás de um bom emprego.
- Mas mãe. Eu não quero trabalhar.
- Veja bem Zequinha.
- Mãe, não me chama assim na frente das pessoas.
- Ta bom, Sr. José Ferreira da Silva Filho. Não estou criando um vagabundo, tá me ouvindo? Você já é um rapaz. Precisa saber o que quer da vida. E isso é o que você não quer: virar um marginal. Tá me ouvindo?
- To mãe.
- Não entendi.
- TÔ MÃE.
- Muito bem. Agora devolve o dinheiro.
- O QUE? MAS MÃE...
- Sem mas... devolve o dinheiro agora.
- Tá aqui, seu gerente.
- Muito bem. E agora você vai fazer o que?
- AH MÃE.. NÃO VOU NÃO.
- Zeeeeeeca...
- Puxa vida. Hunf !!! Desculpa seu gerente.
- Ótimo. Agora vamos pra casa. Eu, você, esse seu amiguinho e a mãe dele temos uma longa conversa pela frente. E digo logo que não será nada agradável.
- MÃE. Posso jogar vídeo game quando chegar em casa?
- O senhor está um mês sem vídeo game. E dois sem futebol.
- MAS MÃE...
- Nada de 'mas mãe'. Tenho dito. E não pense que não irei falar com o seu pai sobre isso. 
Enquanto isso...
- Senhor gerente. O senhor não vai chamar a polícia?
- Polícia??? Esses dois aí já estão bem encrencados.

*****

Num tempo não muito distante os jovens ouviam o que os pais tinham a dizer. E não somente ouviam como obedeciam. O que os pais diziam era lei dentro de casa. E quando a lei não era cumprida havia a punição que vinha em diversos formatos: sem sobremesa, sem televisão, sem vídeo-game, ou até mesmo uma surra. 

Infelizmente os tempos mudaram. E para pior. Hoje os jovens não ouvem e por consequência não obedecem. E não é exagero dizer que nos dias atuais são os pais que obedecem aos filhos. Temos crianças e adolescentes cada vez mais mimados. Temos pais cada vez mais reféns dos filhos. 

Claro que isso é uma visão no plano geral. Felizmente há pais que ainda conseguem se impor dentro de casa. E muitas vezes sem o uso da força. Mas o número é cada vez menor, o que é de se lamentar.

Que possamos transmitir aos nossos filhos valores que andam um pouco esquecidos: amor e respeito ao próximo. 

Que possamos ensiná-los coisas básicas da vida: não jogar lixo na rua; ajudar a mãe nos afazeres de casa; ser dedicado aos estudos; ajudar as pessoas menos favorecidas; dar o lugar às pessoas mais idosas e também as gestantes e mulheres com crianças de colo. 

São gestos básicos, mas que fazem uma baita diferença.

Que possamos criar homens e mulheres honestas. Pessoas que queiram vencer na vida de forma digna, sem precisar dar o 'chapéu' em ninguém. Pessoas que queiram entrar na política não pelo salário e benefícios inerentes ao cargo, mas sim com a visão de ajudar no desenvolvimento do bairro, da cidade, do PAÍS onde moram.

Que possamos DE UMA VEZ POR TODA perder o tão famoso jeitinho brasileiro e possamos utilizar o jeitinho certo. 

Muitos dizem que é na educação que iremos encontrar a solução para os problemas do país. E é por esse motivo então que não devemos nos esquecer nunca:

EDUCAÇÃO COMEÇA EM CASA.