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sábado, 31 de dezembro de 2016

2017 - ANO REAL

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Mike está cercado. De um lado cães pit bulls loucos para rasgá-lo e sentir o gosto da sua carne com sangue. De outro lado cobras cascáveis se aproximam cada vez mais. As duas portas estão bloqueadas e ele não sabe como sair dali. Ao longe ele ouve o som do tic tac tic tac. Dali a 3 minutos aquele armazém irá pelos ares.

Ele olha para o alto e vê uma janela. Milagrosamente há uma corda saindo dela. Ele não se lembra de ter visto aquela corda. Como ela foi parar ali? Bem, isso não importa. Ele mostra o dedo do meio para os pit bulls, chuta duas cascáveis que estão próximas dos seus pés e, depois de correr a la Bolt, pula e se pendura na corda.

Enquanto escala a corda ele começa a assobiar New York New York de Frank Sinatra. Saindo dali ele voará direto de Moscou para a Big Apple. Irá se encontrar com Linda e finalmente pedir sua mão em casamento. Ele está perdido em seus pensamentos sobre o casório quando um dos pit bulls pula e consegue morder a sua calça. Ele então volta à realidade. Dois minutos para a explosão.

Mike chuta o pit bull, mas o animal é insistente. Não vai soltar. De repente, alguém aparece na janela e com uma pistola 45 mm atira no cão, que finalmente solta a calça e cai a uma altura de 5 metros. Mike continua sua escalada. A pessoa que atirou no pit bull estica o braço e ajuda Mike. 1 minuto para a explosão.

- Mike, tudo bem?
- Tudo. Muito obrigado... NEYMAR?!?!?!?
- Sim, sou eu mesmo.
- Wow. O que você está fazendo aqui?
- Perdemos o Messi para o próximo jogo e disseram que você seria um ótimo substituto. Vim perguntar se você não quer jogar pelo Barça.
- Wow. Que honra. Claro que quero. Agora, você poderia ter me ligado.
- Não havia tempo. O jogo é daqui a 2 horas. Vim te buscar de helicóptero.

tic tac tic tac tic tac tic tac

- Que barulho é esse?
- A BOMBA!!!!

30 segundos para a explosão. Eles saem correndo e, como dois gatos, pulam para dentro do helicóptero. O piloto então levanta vôo... 15 segundos para a explosão... Mike e Neymar se seguram nas barras que ficam no teto... 5 segundos para a explosão... 4... 3... 2... KABUUUUUUM
Não há mais cascáveis. Não há mais pit bulls. Não há mais armazém. O que há é apenas uma fumaça preta. Não é possível saber se o helicóptero conseguiu chegar a uma distância segura. Até que gritos podem ser ouvidos. Gritos que saem de dentro da fumaça.

- UHUUUU... VOCÊ VIU AQUILO??? SEN-SA-CI-O-NAL.
- Eu vi sim, Neymar. Mas não entendi a alegria. Nós quase morremos.
- POR ISSO MESMO. QUASE MORREMOS, SÓ QUE NÃO. UHUUUUUUU
 - Neymar, por que você está gritando?
- NÃO SEI. SÓ SEI QUE FOI SHOW. AGORA, PRÓXIMO DESTINO: BARCELONA. UHUUUUUUUUU!!!

O piloto voa de Moscou à Barcelona em menos de uma hora. Como? Não sabemos. Mas isso não importa. O piloto pousa o helicóptero dentro do Camp Nou. Neymar e Mike desembarcam. As arquibancadas estão lotadas. Porém, algo não está certo. Há um silêncio sepulcral. Os jogadores já estão devidamente uniformizados. No entanto, não estão batendo bola como normalmente fazem antes de qualquer jogo. Estão andando de um lado para outro, olhando para baixo.

Mike não entende o que está acontecendo. Se vira para Neymar para tentar buscar uma resposta. Neymar está quieto. Parece hipnotizado. Aliás, durante toda a viagem ele esteve quieto, bem diferente de quando saíram de Moscou. Outra coisa estranha: os olhos dele estão vermelhos como sangue. Ele então fala algumas coisas, mas Mike não consegue entender.

- Neymar, o que está acontecendo?
- Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrr....
- Você está bem?
- Rrrrrrrrrrrrrrrrrrr.....
- Neymar, você... o que é isso na sua boca... e os seus olhos... oh não... OH NÃO....  OH MEU DEUS... VOCÊ VIROU UM WALKER.

Mike corre em direção aos outros jogadores. Todos estão transformados. Todos são walkers. Corre para as arquibancadas. Lá estão todos transformados também. Ele olha para o banco que fica do lado do campo. Ele enxerga algo reluzindo. Olha com mais cuidado. É uma metralhadora. Ele corre como um maluco, passando por vários walkers e finalmente chega até o banco. Pega a metralhadora e começa a atirar. Atira para todos os lados. Consegue acertar vários, mas mesmo assim não é suficiente, pois há muitos walkers. Eles parecem se multiplicar.

Ele joga a metralhadora no chão – acabaram as balas – e começa a correr. Quando está próximo de alcançar a saída, um walker segura seu braço. Ele olha para trás e vê Neymar  tentado morder o seu braço. Os dois começam uma briga violenta. Mike segura o pescoço de Neymar, ficando assim longe das suas mordidas. Ele não sabe quanto tempo irá agüentar. Quando...

- MIKE, ABAIXE-SE.

Linda aparece do nada com uma faca e enfia nos miolos de Neymar, que automaticamente solta o braço de Mike.

- Linda?!?!? O que fazes aqui?
- Sou do departamento do governo que monitora os walkers no mundo todo. Estávamos de olho em Barcelona e sabíamos que a qualquer momento esse ataque poderia acontecer.
- Governo??? Então aquelas saídas suas para a all-girl nights era tudo fachada??
- Sim.
- E como você sabia que eu estava aqui?
- Através do GPS do seu celular. Olha, depois te explico tudo. Precisamos sair daqui agora.

Durante o vôo para casa, Mike fica sabendo pormenores sobre o trabalho de Linda. Ele aproveita o momento e pede a mão dela em casamento. Ela prontamente aceita. Dois meses depois Mike e Linda se casam na Big Apple e vivem felizes para sempre.

THE END

História maluca, não? Empolgante, talvez, mas maluca. Uma mistura de filme com vídeo-game. O que me leva a falar um pouco sobre os dois.

Televisão.  
Uma invenção dos anos 20, mas que teve o início da sua popularidade depois da Segunda Guerra Mundial. Desde o primeiro modelo (1925) até os dias de hoje (2016), houve uma evolução extraordinária: HD, 3D, Internet, etc. Ela foi criada para ser mais uma forma de entretenimento (entertainment  em inglês) para as famílias. E assim foi. Quem não se lembra de aos domingos se reunir em frente à TV para assistir ao programa Os Trapalhões? Era programa obrigatório. Ou se você quisesse se informar sobre o que acontecia no Brasil e no mundo era só assistir ao telejornal diário Jornal Nacional ou ao programa dominical Fantástico. Quem não se lembra do Jô antes do seu programa de entrevistas? Ele fazia as pessoas rirem com o programa Viva o Gordo. Ou quem não se lembra de um dos mais de 200 personagens do eterno Chico Anysio?

Vídeo-game
A evolução do vídeo-game é tão surpreendente quanto o da televisão. Hoje os jogos são extraordinários. Hoje o jogador ‘entra’ no jogo através da realidade virtual (virtual reality em inglês). Passamos dos jogos do famoso console Atari (Enduro, Pac-man, River Raid, H.E.R.O) para jogos do console Play Station (FIFA, PES, God Of War, Batman, GTA). Hoje você pode jogar sozinho ou contra alguém do outro lado do Atlântico através dos jogos on-line.

Essa tecnologia toda (TV e vídeo-game) é maravilhosa e por isso mesmo perigosa. Estamos deixando de viver no mundo real para vivermos cada vez mais no mundo virtual: amizades virtuais (Facebook), namoros virtuais (Skype), relacionamentos virtuais (whatsapp). E por ser virtual acaba se tornando automaticamente superficial.

Antes brincávamos na rua de pega a pega, polícia e ladrão, futebol, voleibol, etc. Passavámos a noite sentados na calçada, conversando com nossos amigos. Hoje brincamos de vídeo-game, papeamos pelo whatsapp, contamos piadas pelo Facebook.

O mundo da televisão e jogos é surpreendente. É diferente. É encantador. E por isso atrai milhões de pessoas, ou melhor, bilhões de pessoas ao redor do mundo. Pessoas que querem ser o herói do filme, combater todos os vilões e no fim do dia ficar com a mocinha.

Desejo que em 2017...

- você não queira ser o herói do filme ou do jogo de vídeo-game.

- você não queira viver uma vida virtual.

- você queira ser o herói da sua própria história.

- você converse mais.

- você viaje mais.

- você conheça novas pessoas.

- você restabeleça e fortifique o relacionamento com quem você já conhece.

- você saia mais com seus amigos/amigas.

- você saia mais com seu esposo/esposa.

- você saia mais com seu namorado/namorada.

- você saia mais com seus filhos/filhas.

Desejo que você deixe de viver uma vida virtual e comece a viver a sua vida/história real, onde há tristeza, é verdade, mas há muita alegria também. Se você vai se machucar? Claro que vai. Mas tenho certeza que haverá alguém dentro do seu círculo de amizades/familiares que irá te levantar, te incentivar.

Desejo que DEUS, que não é virtual, mas muito REAL, faça parte da sua vida. Convide-o a fazer parte do seu círculo de amizades. Convide-o a fazer parte do seu dia-a-dia. Os problemas terminarão com DEUS em sua vida? Claro que não. ELE não prometeu uma vida sem problemas. Porém, uma coisa é certa, ELE providenciará as soluções.

Um 2017 cheio...

AMIZADE

AMOR

COMPREENSÃO

PERDÃO

JESUS

 FELIZ ANO NOVO

 FELIZ 2017

HAPPY NEW YEAR

HAPPY 2017







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sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Boa Viagem !!!

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*qualquer semelhança com situações e personagens reais não é mera coincidência.

Em um pequeno aeroporto localizado numa pequena cidade do Brasil, um grupo de amigos se reúne para o que será a viagem da vida deles. Eles ganharam a oportunidade de representar a sua cidade natal num torneio nacional de xadrez que irá acontecer na maior cidade do Brasil. Eles nunca foram para São Paulo. Essa será a primeira vez que conhecerão a cidade que já foi conhecida como cidade da garoa, mas que vem perdendo esse nome devido à poluição e ao aquecimento global.

Como a cidade é pequena, todo mundo se conhece, e por isso todos estão no aeroporto para se despedir dos seus heróis. O prefeito então começa o discurso.

“Amigos e amigas. Que honra! Que honra! Esses rapazes estão realizando não somente os seus sonhos e os sonhos dos seus familiares. Estão realizando o sonho dessa cidade. A partir desse exato momento eles gravam seus nomes na história dessa cidade... na história desse país... na história do MUNDO!”

Todos os presentes aplaudem de forma efusiva. Todos estão verdadeiramente felizes. Um grupo de repórteres amigos do prefeito é convidado para acompanhar e registrar o passo a passo dos rapazes e do técnico. E ele faz questão de emprestar o seu jatinho particular. Quer que eles tenham uma viagem confortável e tranquila.

Antes da decolagem, eles se despedem da família e amigos. “Boa sorte, amor. Eu e Belinha já estamos com saudades”... “Filho, não se esqueça de colocar a blusa quando chegar lá. Eu vi na TV que está muito frio”... “To de olho no senhor, viu? Vou te ligar toda hora. Tá cheio de piriguete lá”... “Estou muito orgulhoso de você, meu filho. Parabéns!!”.... “Não vejo a hora do Felipe nascer. Não demora lá, não. Quero você aqui na hora do parto”... “Vai lá e acaba com eles”... “Lembre-se, eu te amo!”... “Compra o novo Playstation pra mim? Eu te pago quando você chegar”...

Depois de muitos beijos, abraços e apertos de mãos, tripulação, jogadores e repórteres entram na aeronave. É hora de partir. E como em qualquer viagem de avião...

Há o entusiasta:
“Uhuuuuuuuuuuuuuu!!!! Estamos indo para São Paulooooooo!!!! Uhuuuuuuuuuuu!!!! É nóóóóóóóóíissssss!!!! São Pauloooooooooooooo!!!! Meu Deeeeeeuusss!!!! Uhuuuuuuuu!!!!”

Há o religioso:
“Pai nosso que está no Céu, por favor, abençoe nossa viagem. Não deixe que nada aconteça. Sabemos que tudo que acontece, acontece por um motivo que só o Senhor conhece. Por favor, Pai. Cuida de cada um aqui. E cuida também da nossa família...”

Há o piadista:
“Calma pessoal. Fica nervoso não. Conhecem a lei da física, né? Tudo que sobe, desce. Kkkkkkk... Que foi??? É só uma piada. Credo! To brincando.”

Há o dorminhoco:
“Caraca!!! O Denis já dormiu? Não acredito nisso. O cara não pode sentar que dorme. É assim em todo lugar. E a gente nem decolou ainda. Alguém acorda o Denis, por favor.”

Há o tirador de selfie:
“E aí meu povo. Vamos tirar uma selfie para por no face... Opa, por favor senhor piloto. Posso tirar uma selfie aqui da cabine?... Opa, que aeromoça linda. Posso tirar uma selfie com você?... Gente... kkkk... vou tirar uma selfie com o Denis aqui... kkk.. olha só o bicho de boca aberta... kkk... Vamos tirar uma selfie com a língua de fora.”

Há o calmo:
“Calma, gente. Calma.”

Há o medroso:
“Ai ai ai... não to gostando disso... oh Meu Deus... quero descer... quero descer...  Já chegamos?... O quê?... Não saímos do chão ainda?... Ai ai ai... Vamos logo, gente, pelo amor de Deus... Não, não vamos. Alguém abre a porta desse bicho que eu quero descer... Não pode abrir????... Ai ai ai... Esse troço é muito pesado. Como que consegue ficar no ar???... Ai ai ai...”

Tudo preparado para a grande viagem. O piloto, através do alto-falante, pede para que todos ponham o cinto. Silêncio agora. Ninguém conversa. Silêncio agora. Ninguém tira selfie. Silêncio agora. Ninguém faz piada. Silêncio.

Denis finalmente acorda e não reconhece onde está, mas uma coisa é certa, não está dentro de um avião. Procura pelos seus amigos, mas não vê ninguém. De repente uma pessoa se aproxima.

- Por favor, onde estou?
- Você está onde deveria estar.
- E os meus amigos? Onde estão?
- Eles estão jogando uma partida de xadrez com Paulo e Pedro.
- Paulo e Pedro?
- Sim. Meus amigos.
- Poxa. Nem me chamaram.
- Eu que pedi para não acordá-lo. Você dormia como um anjo.
- Pois é... meus amigos e familiares me chamam de...
- Bela Adormecida.
- É. Isso mesmo. Como você sabe?
- Eu sei tudo sobre você.
- Como assim? A gente se conhece?
- E muito.
- Mas eu não me lembro do seu rosto.
- Mas a gente sempre conversou.
- Como assim? Você tem o meu whatsapp?
- Rs... Não. Não tenho o seu whatsapp. Não sou muito apegado a essa tecnologia. Eu prefiro a velha e boa conversa ao pé do ouvido.
- Mas eu não me lembro de ter conversado com você.
- A gente sempre conversou de manhã, logo após o café da manhã e antes de você dormir. Porém, não era todo dia.
- Como assim?
- Havia semanas que conversávamos horas a fio. Em outras semanas, por poucos minutos. E havia também semanas que não trocávamos uma palavra sequer. Essas semanas eram muito tristes para mim.
- Mas... não estou entendendo. Eu não converso com ninguém de manhã ou antes de dormir. O que eu faço é orar. Eu tenho o hábito de orar após o café da manhã e antes de dormir. Como eu poderia falar com você se eu estava orando?

Silêncio. Denis tenta entender o que está acontecendo.

- HEEEEEEY. PERALÁ!!!!!! VOCÊ... VOCÊ... VOCÊ... VOCÊ É... VOCÊ É... VOCÊ ÉÉÉÉÉÉÉ...
- Sim, EU SOU.
- NÃO ACREDITO!!!!
- Pois acredite.

Denis automaticamente se ajoelha e começa a chorar. Jesus o pega pelas mãos e o levanta. Começa então a limpar suar lágrimas.

- Não precisa chorar, meu filho.
- Que sonho mais real.
- Sonho? Não, isso aqui não é um sonho.
- Claro que é. Porque senão for um sonho, eu estou no Céu. E se estou no Céu é porque o meu avião... Oh não. O avião...
- Sim.
- E os meus amigos também?
- Sim.
- Todos?
- Todos.
- E a tripulação??? Os repórteres??? O técnico???
- TODOS.
- Mas o que aconteceu? Foi na aterrissagem? Foi durante o vôo? O que aconteceu?
- Foi próximo ao destino. Faltou gasolina, o que o pessoal chama de pane seca. O piloto, que também era dono da empresa, para economizar dinheiro, acabou colocando a quantidade exata de gasolina. Como ele teve que desviar da rota, acabou faltando combustível.
- Que pilantra. E por causa dele, estão todos...
- Sim. Mas não se preocupe. Mais tarde eu terei uma conversinha particular com ele. E não será nada agradável.

Os dois ficam em silêncio por alguns minutos. Até que Denis quebra o silêncio.

- Senhor, e a minha esposa? Ela está grávida.
- Não se preocupe. Ela está muito triste, obviamente, mas eu estou confortando o coração dela. Aliás, já nasceu.
- Já nasceu????? Então eu sou pai.
- Sim.
- Mas iria nascer daqui a duas semanas.
- Eu sei. Mas como ela estava sofrendo muito, já a coloquei em trabalho de parto. E assim ela já deu a luz ao Denis Jr.
- Mas iria se chamar Ostáquio, em homenagem ao meu avó.
- Eu sei. Mas eu a convenci a mudar de nome. Denis, francamente... Ostáquio???

Jesus e Denis caem na gargalhada.

- Senhor, posso fazer uma pergunta?
- Claro.
- Por que agora? Eu tinha tantos planos. Tinha esse torneio que iríamos participar contra xadrezistas do Brasil inteiro. Tinha meu filho que ia nascer. Tinha o sonho da minha esposa de viajar para Argentina. Eu ia usar o dinheiro da premiação para pagar a viagem. Fora os sonhos dos meus amigos.
- Ok, Denis. Walk with me.
- Hããã???
- Denis, você não fala inglês?
- Comecei um curso aí, mas não terminei.
- Ai ai... Walk with me. Ande comigo.
- Wow. O Senhor manja de inglês, hein? Quantas línguas o Senhor fala?
- Falo todas as línguas. Como você acha que eu me comunico com o mundo inteiro? Mas esse não é o caso. Vamos dar uma volta.

Jesus e Denis começam a caminhar. Jesus então explica o porquê dos acontecimentos, o porquê da queda do avião, o porquê do interrompimento dos sonhos. Depois de tudo explicado, eles param.

- Então. Entendeu?
- Sim. Agora ficou claro. Mas eu acho que o pessoal lá embaixo não entende.
- Sabe qual é o problema, Denis. As pessoas sonham e fazem planos como se elas fossem viver eternamente, mas se esquecem que na vida tudo é passageiro, inclusive a vida. Outro problema: elas acham que têm tudo sob controle, mas é um controle falso, pois quem controla tudo Sou Eu. Eu dou a vida e Eu tiro a vida. Como, quando e onde Eu quiser.
- Wow. Isso é pesado.
- Eu sei. Mas deixa eu te contar um segredo. As tragédias trazem com elas dois lados. Lado negativo: choro, tristeza, perda, morte, sonhos desfeitos. Lado positivo: faz o ser humano refletir sobre quem ele é, de onde ele veio e para onde ele vai. Alguns acabam entendendo. Outros teimam em não entender. Outra coisa...
- O quê?
- Esses acidentes fazem com que as pessoas fiquem mais próximas, demonstrem mais compaixão, mostrem mais amor um pelo outro, colocando em prática o que eu ensinei quando passei pela Terra – amar a Deus acima de qualquer coisa e amar ao próximo como a si mesmo. Você não faz ideia de como está o país agora, depois do acidente de vocês. Aliás, não só o país, mas o mundo. Seus familiares estão recebendo mensagens de toda a parte do planeta e tem muita gente que vai ajudar as financeiramente.
- Wow. Isso é muito bom.
- Isso é ótimo. Demonstra que vocês são capazes de coisas boas também. Eu acredito em vocês. E é por isso que morri por vocês.

A conversa é interrompida por um anjo.

- Senhor, estão chamando-O para tentar acalmar Pedro. Ele perdeu o jogo e não quer dar a vez para o próximo.
- Pedro, Pedro. Sempre competitivo. Denis, acompanhe Gabriel. Eu me junto a vocês mais tarde. Preciso dar uma saída.
- Aonde o Senhor vai?
- Preciso fazer uma visita ao novo presidente dos Estados Unidos. Ele está com umas ideias nada boas.
- OK.
Quando estavam se afastando, Denis chamou Jesus.

- Senhor! Senhor!
- Sim.
- Obrigado!!!




Na madrugada do dia 29 de novembro de 2016, o avião que levava a delegação da Associação Chapecoense de Futebol para Colômbia, onde disputaria a final da Copa Sul Americana contra o time do Atlético Nacional, caiu, ceifando a vida de 71 pessoas, dentre elas comissão técnica, jogadores, repórteres e tripulação.

Considerado um dos maiores desastres envolvendo a morte de um grupo de jogadores de uma mesma associação, o acidente/tragédia/assassinato mobilizou a cidade de Chapecó, o estado de Santa Catarina, o Brasil, o mundo. Há muito não se via tamanha comoção. Comoção essa expressa através das redes sociais, jornais e meios de comunicação como rádio e TV. A hashtag mais partilhada no mundo após o acidente foi #ForçaChape.

Clubes de futebol do Brasil e do mundo estão oferecendo não somente homenagens como também doação de dinheiro. O PSG irá doar 40 milhões de euros e a renda do jogo entre Barcelona e Real Madri, que acontecerá no dia 03 de dezembro, será doado ao clube e as famílias daqueles que estavam no avião.

No meio dessa tragédia podemos claramente dizer que há esperança para o ser humano. Nem tudo está perdido. Porém, nos faz também pensar em como a vida é frágil e que sonhos construídos com muito suor podem ser facilmente desfeitos com um sopro do destino.

Que essa tragédia não caia no esquecimento como tantas outras. Que o dinheiro arrecadado/doado para o clube e famílias possa realmente chegar ao clube e famílias. E o mais importante: que possamos construir nossos planos e sonhos na rocha que é Jesus Cristo e não na areia onde cai a chuva e bate o vento.


Que Deus possa confortar as famílias e amigos dos jogadores, comissão técnica, repórteres e tripulação.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

AMOR

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O que é AMOR, essa palavra pequena, mas com um poder gigantesco? Muito provavelmente, se você perguntar para dez pessoas, você ouvirá dez definições diferentes. Abaixo temos algumas dessas definições.

1. Afeição profunda a alguém, a ponto de estabelecer um vínculo afetivo intenso, capaz de doações próprias, até mesmo o sacrifício;
2. Dedicação extrema e carinhosa;
3. Sentimento profundo e caloroso de atração que um sexo experimenta pelo outro;
4. Apego;
5. Carinho e ternura;
6. Cuidado, zelo;
7. Relações amorosas, namoro.

O amor é cantado. O amor é prosado.

É expressado tanto nas palavras quanto no silêncio.

Faz parte da trilha sonora de novelas, filmes e seriados.

Faz parte da trilha sonora da vida real.

Faz parte dos relacionamentos entre casais, pais e filhos, amigos.

Alguns o classificam como um sentimento. Outros o enxergam como um verbo. Na verdade é um pouco dos dois, pois começa com um sentimento que lhe motiva a fazer algo por alguém.

O amor tem várias facetas e falaremos sobre uma delas. Para isso irei contar o relato da pequena Marina. E como diria a vinheta do programa infantil da TV Cultura Rá Tim Bum... Senta que lá vem história.



O ano é 1990. Gerson e Cristina estão ansiosos. Ela está com a menstruação atrasada. Gerson não sabe se fica feliz ou triste. Já Cristina tem certeza: está super feliz. É o sonho de ser mãe sendo realizado.

Os dois estão do lado de fora do consultório, aguardando a chamada do médico.

- Podem entrar.
- Com licença doutor.
- Parabéns, Cristina. Você está oficialmente grávida.
- Uhuuuuuuuu... Yeeeeeeessssss...
- A partir de agora você precisa cuidar melhor da sua dieta.
- Sim, senhor.
- Quero vê-la novamente daqui a um mês.
- Pode deixar, doutor.

Na saída do consultório Cristina imediatamente liga para todos os seus parentes e amigos e avisa sobre as boas novas. Dentro do carro ela não para de falar. Discorre sobre o quarto do bebê, sobre o enxoval, sobre a roupinha que ele irá usar na saída do hospital, sobre a necessidade de comprarem uma casa.

- Amor, por que não fala nada? Está tudo bem?
- Sim, sim.
- Ficou feliz com a idéia de ser papai?
- Sim, sim.
- Aaaahhh... eu estou assim... super feliz... não me aguento de tanta felicidade...

Cristina dispara a falar novamente. Fala sobre tudo e sobre todos. Explica que todos da família ficaram super felizes, menos o seu pai. Ele não queria que sua filha ficasse grávida antes de casar. Mas Cristina explicou que não havia problema porque o seu namorado seria o seu marido. Ela tinha certeza total nisso e pediu para o seu pai não se preocupar.

E Cristina a decorrer o seu monólogo.

- ... e nós nem precisamos nos preocupar com a compra do berço porque minha mãe falou que faz questão de comprar. E sabe o que mais? Gerson, você está me ouvindo?
- Sim, claro. O quê mais?
- Eu serei a melhor mãe do mundo.
- Não tenho dúvidas disso.

Gerson deixa Cristina no serviço dela e de lá vai para a oficina onde trabalha. Cristina acha o comportamento do namorado muito estranho. Ele nunca ficou tão sério desde que os dois começaram a namorar, isto é, há sete anos.

Cristina chega exausta do trabalho. Gerson ainda não chegou. Deve estar no bar com os amigos bebemorando.

No dia seguinte Cristina acha o seguinte bilhete encima da mesa:

“Cristina. Eu te amo muito, de todo o coração, mas acredito não estar preparado para ser pai. Pensei que estaria pronto, mas não estou. Sou muito novo ainda. Tenho muita coisa para fazer e um filho não faz parte dos planos. Recebi uma proposta de emprego muito boa e por conta disso estou indo morar no Rio de Janeiro. Como disse antes, te amo muito e espero que vocês dois possam ser muito felizes. Beijos, Gerson.”

Cristina vê o chão sob os seus pés desaparecer. Na segunda-feira fica sabendo que será mãe e na terça-feira é abandonada pelo namorado. Liga para sua melhor amiga que tenta consolá-la. Depois liga para sua mãe que, como toda mãe, é clarividente e diz que sabia que isso iria acontecer.

Depois de duas semanas de muito sofrimento, com crises diárias de choro, Cristina se recompõe. A alegria de ser mãe diminui a frustração de ser abandonada.

Após um mês da primeira consulta ela está de volta ao consultório para exames de rotina.

- Olá, Cristina. Tudo bem?
- Mais ou menos, doutor.
- Cadê o seu namorado?
- Então... Nós terminamos. Quer dizer, na verdade ele terminou.
- Hmmm... Sinto muito.
- Tem problema não, doutor. Vida que segue. Como está o meu bebê?
- Os exames mostram um bebê saudável.
- Que bom. Já da para ver o sexo?
- Ainda não. Acredito que na próxima consulta. Continue na dieta que eu recomendei, ok?
- Ok. Obrigado, doutor.

Cristina vai para casa feliz, pois tudo o que queria era ouvir que seu bebê está bem.

8 meses depois...

- Aaaaaaaaaaaaaaahhhhhh....
- Isso. Continue fazendo força.
- Se fizer mais força eu explodo. Aaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhh....
- Pare de reclamar e faça força.
- Iiiiiihhhhhh Aaaaaahhhh

TUM

- O QUE ACONTECEU?
- Você deu um chute na cara do médico. Ele desmaiou.
- ALGUÉM ACORDA ELE.
- Como?
- NÃO ME INTERESSA. ACORDA ELE. QUERO ACABAR LOGO COM ISSO. AHHHHHHHHHH... IIIIIIIIHHHHH

Muitos AAAAAAHHHHHHs e IIIIIIHHHHHHs depois.

- Pronto. Está saindo.
- Uééééé... uéééééé... uéééééé...
- Que garotinha mais linda, mamãe.
- Ai meu Deus. Posso pega-la?
- Claro. Aqui está.
É amor a primeira vista. Na verdade, Cristina já nutria esse amor pelo seu bebê desde o dia que ficou sabendo que seria mamãe.

- Qual o nome?
- Marina.
- Belo nome. O que significa?
- Aquela que veio do mar. É uma homenagem ao meu pai. Ele amava o mar. Sempre que tinha uma folguinha ele fugia para o mar. Dizia que ali era o seu refugio. Ali ficava longe de tudo e todos. Principalmente da minha mãe. Kkk...
- Que legal. E por falar em mãe...
- Cadê minha neta? Quero pega-la no colo.
- Aqui mamãe.

Assim é a passagem de Cristina pelo hospital: muitas visitas e chamegos. Todos querem pegar a Marina no colo. E todos apaixonados por aquela coisinha fofa, de cabelos loiros e olhos claros, como a mãe.

O tempo vai passando e o amor de Cristina por Marina só faz crescer. É um sentimento puro e genuíno. Tudo corre bem a não ser por um detalhe que deixa uma pulga atrás da orelha de Cristina: Marina não consegue andar. Ela já está com dois anos e não consegue ficar de pé. Os médicos dizem que é normal. Algumas crianças demoram um pouco mais até começar a andar. O problema é que Marina está demorando demais.

Cristina resolve então levar sua filha para o melhor hospital da cidade. Raspa todas as economias do banco e paga por um exame caríssimo e que só pode ser feito pelo Hospital das Clinicas.

- Senhora Cristina?
- Pois não?
- O doutor a está esperando. Pode entrar.
- Obrigada... Com licença doutor.
- Claro, Cristina. Sente-se, por favor.

Cristina senta, aflita com aquela situação.

- Bem, mãe. Creio não ter boas notícias.

Os olhos de Cristina imediatamente se enchem de lágrimas.

- Marina tem o que chamamos de *Síndrome de Renault, doença que não é diagnosticada com os exames rotineiros. Ela ataca os membros inferiores dos bebês.  
- Mas doutor.... Ela parece tão bem, tão saudável.
- E ela é uma criança saudável. Mas infelizmente, nessa área, o da locomoção, bem... não há remédio e nem cura.
- Isso quer dizer o que????
- Que ela nunca andará.
- Nunca?  Tem certeza, doutor? Faz de novo o teste, por favor.
- Cristina, eu fiz os testes 3 vezes. Não há nada que possamos faze. Sinto muito.

Pela segunda vez o chão desaparece sob os seus pés. A primeira vez foi quando Gerson a deixou. E agora ela fica sabendo que sua Marina, uma menina de sorriso fácil, não poderá andar. Não poderá correr. Nesse momento se passa um filme pela sua cabeça. Se lembra do vídeo que o seu pai fez dela, Cristina, dando os primeiros passos. Se lembra de quando brincava de pega a pega. Se lembra de quando corria pra cima e pra baixo com a sua cadela Sophie. Essas memórias não traziam nenhuma alegria nesse momento, porque ela sabia que sua filhinha não teria a oportunidade de fazer nada disso.

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7 anos depois...

Hoje é aniversário de Marina, a menina mais linda desse mundo - nas palavras da mãe babona. Está tudo decorado com a cor verde. Sim, Marina é palmeirense. Cristina tentou persuadi-la a torcer pelo Santos,  mas Marina não cedeu. Ela que pediu pela cor verde e por um bolo do Palmeiras.
Apesar da sua limitação motora, ela não tem problemas na escola. Ao contrário, é sempre uma das primeiras alunas da classe. Motivo de orgulho da família.

Todos estão felizes. A alegria de Marina é contagiante. É impossível ficar triste perto dela. Todos se aproximam da mesa, pois é chegada a hora de cantar parabéns. Cristina pede silêncio.

- Ok, pessoal. Vamos todos ficar em silêncio e cantar um parabéns bem forte para Marinaaaaaa....

Todos cantam com entusiasmo.

- Ok, filha. Agora, faça um pedido e apague as velinhas.
- Posso pedir dois?
- Claro.
- O primeiro é que...
- Nãããão... não pode falar qual é o desejo.
- Por quê não?
- Se falar ele não se realiza.
- Tá bom. Mas mãe, posso fazer dois mesmo? Posso?
- Geralmente não. Mas hoje iremos abrir uma exceção.

E com essas palavras Marina fecha os olhos e todos, sem ensaio, ficam em silêncio enquanto ela pensa nos desejos. Parece até que Marina está orando. Passados exatos 44 segundos, ela abre os olhos e apaga as velinhas. Todos estão quebram o silêncio e atacam o bolo de morango de Cristina, famoso no bairro.

10 anos depois

Marina não é mais uma menina. Hoje é uma mulher de 19 anos de idade que está no primeiro ano da faculdade. Sua limitação motora não a limitou e está agora matriculada no curso de Direito de uma das faculdades mais bem conceituadas do país. Nesse momento ela está no vestiário se arrumando para uma partida de basquete para cadeirantes.

- O jogo hoje será difícil, hein? As meninas do outro time são muito boas.
- São sim, Marina. Mas nós temos uma arma secreta.
- Temos? O que?
- O que não. Quem.
- Quem???
- Você, Marina. Você é nossa melhor jogadora e tenho certeza que irá arrasar.
- Para com isso, Soninha. Nós iremos arrasar. Nós.

Após o jogo, ambas têm razão. O time arrasa e Marina é eleita a melhor do jogo. Quando está indo para o vestiário, seu treinador lhe chama. Está com uma pessoa ao seu lado.

- Marina, posso falar com você?
- Claro, couch. O que manda?
- Esse é Guilherme.
- Oi, Guilherme. Prazer em conhecê-lo.
- Olá, Marina. O prazer é todo meu.
- Bela camisa, Guilherme. Amo essa cor verde. E amo esse símbolo aí com o P no meio. Também sou palmeirense.
- Que legal, Marina. Mas eu não sou apenas palmeirense. Eu também trabalho no Palmeiras.
- Sério? Que show. Se eu te der uma camisa você pega uns autógrafos pra mim?
- Claro, mas se ao invés de eu pegar, porque você mesmo não pega? Se você quiser eu te levo ao clube para você conhecer os jogadores.
- OH MY GOD !!!! É SÉRIO ISSO??????
- Claro. Quando seria um dia bom para você?
- Hoje!!! Agora!!! Já!!!

Marina é só alegria. Vai visitar o seu clube de coração e conhecer os jogadores que defendem as cores verde e branco.

- Só preciso ligar para mim mãe. E tomar um banho também, né? Não posso aparecer lá desse jeito.
É um dia mais do que especial na vida de Marina. Ela tira fotos, recebe camisas autografadas por todos os jogadores, ganha mimos do presidente Paulo Nobre, pisa no gramado sagrado do Allianz Park, almoça junto com os jogadores São Marcos e Evair. Tudo é festa. Guilherme então a chama de lado para uma conversa que irá mudar sua vida.

- Está gostando do tour?
- A-MAN-DO
- Que bom. Marina, tenho algo para lhe contar.
- Pois conte.
- Eu te conheço há algum tempo já. Tenho acompanhado os seus jogos.
- E gostou do que viu?
- Oh, gostei e muito... Bem, vou direto ao assunto. Os grandes clubes de São Paulo irão criar uma liga de basquete para cadeirantes. Palmeiras, Corinthians, São Paulo e Santos irão investir em esportes visando os jogos Paralímpicos que acontecerão no Rio em 2016. É uma maneira que o governo, junto com os clubes, achou para motivar as pessoas que tenham algum tipo de deficiência.
- Nossa, que bom. Já era tempo, né?
- Também acho. Mas enfim, nós, da Sociedade Esportiva Palmeiras, gostaríamos de tê-la no nosso time de basquete. A sua alegria, entusiasmo e habilidade vão trazer muitos benefícios para nossa equipe. E tenho certeza que, do Palmeiras para a seleção brasileira, será um pulo.

Marina está em silêncio. Não se mexe. Guilherme imagina o pior. Ele segura Marina pelos ombros e começa a chacoalhá-la delicadamente. Mas ela continua sem se mexer. Ele fica desesperado. De repente Marina solta um pequeno som inaudível. Guilherme põe o ouvido próximo da boca de Marina, que continua a soltar pequenos sons inaudíveis. Ele põe o ouvido mais próximo da boca de Marina quando então ela dá um grito:

- UHUUUUUUUUUU YEEEEEEEEEESSS OH MY OH MY OH MY UHUUUUUUUUUU YEEEEEEEEEESSS NÃO ACREDITOOOOOO NÃO A-CRE-DI-TOOOOOOO  QUANDO SURGE O ALVIVERDE IMPONENTE  UHUUUUUUUUUUUU YEEEEEEEEEEEESSS

Guilherme dá um pulo para trás. Passado o susto, começa a gargalhar. Quando se aproxima de Marina, é agarrado por ela. Recebe um dos abraços mais aconchegantes e sinceros de toda sua vida. Marina começa então a chorar copiosamente. Guilherme, que é uma manteiga, não se aguenta de emoção e também começa a chorar. Ele então segura Marina pelos ombros novamente e olhando diretamente nos seus olhos diz:

- Tenho a mais plena convicção de que você será um exemplo de vida para muita gente. Dentro e fora do esporte.

Marina, secando as lágrimas que teimam em parar de cair, devolve o olhar direto e grita:

- SORVETEEEEEEEEEE. Vamos comemorar tomando sorvete.

Eles caem na gargalhada de novo e juntos vão para uma das lanchonetes do estádio. É hora de encher a cara de sorvete.


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16 de setembro de 2016...

Final do Basquetebol Feminino em Cadeiras de Rodas. Os Estados Unidos batem a Alemanha por 62 a 45. O Brasil encerra sua participação na Paralimpíada Rio 2016 na sétima colocação, tendo ganho da Argentina e perdido para Alemanha e Canadá. Essa é a melhor participação do Brasil em todas as Paralimpíadas.

Duas semanas depois do encerramento dos Jogos, o governador de São Paulo convida as atletas para uma cerimônia no palácio do governo. Alguns atletas irão discursar. Um dos atletas é Marina.

O governador faz a abertura do evento falando sobre as conquistas e benefícios que os jogos trouxeram para a cidade, para o país, para a população. O seu discurso é interrompido 3 vezes por algumas pessoas que gritam: FORA TEMER. Essas pessoas são imobilizadas pelos seguranças e são convidadas a deixar o local. Nervos colocados no lugar, é hora da participação de Marina.

“Boa tarde, governador. Boa tarde, atletas. Boa tarde, familiares. Boa tarde, jornalistas. Me esqueci de alguém? Bem, quero começar com um agradecimento à todos que acreditaram nos Jogos. Muitos tinham um pé atrás por entender que não estávamos preparados para receber pessoas do mundo todo. Provamos que eles estavam errados.

Quero agradecer aos clubes de futebol e empresas que investiram em muitos que estão aqui hoje. Por favor, continuem investindo. O esporte precisa do dinheiro de vocês.

Quero agradecer aos jornalistas que nos acompanharam por todo esse tempo. Vocês levaram para o mundo imagens e reportagens maravilhosas sobre os esportes e sobre os atletas. Muito obrigada.

Por favor, uma salva de palmas para vocês.”

O público presente começa a aplaudir. Depois de quase um minuto de aplausos, eles se silenciam novamente.

“Muitos nos chamam de heróis e heroínas. Outros tantos nos chamam de guerreiros. Veem na gente a expressão da superação. A expressão da garra. Olho em volta e vejo pessoas que não tem um braço. Outros não têm os dois braços. Pessoas sem um perna. Pessoas com problemas de visão. Pessoas com transtornos mentais.”

Marina para de falar por alguns segundos. Tenta conter as lágrimas, coisa que muitos ali já não conseguem.

“Você imaginar que essas pessoas conseguem jogar futebol, nadar, correr, pular. Fale a verdade. Você já imaginou um time de futebol onde os jogadores são cegos??? Bem, no mínimo é um jogo sem organização e que o placar terminará indubitavelmente 0x0, certo? Errado. São jogos emocionantes, com times organizados e com muitos gols. Detalhe: os goleiros têm a visão perfeita. E para orgulho nacional, o Brasil tem o melhor time do mundo e o melhor jogador do mundo, Jeffinho, o Neymar do futebol de 5. Deixa eu falar baixo aqui, mas pra mim ele joga mais que o Neymar.”

O público solta uma gargalhada gostosa.

“E o que dizer de Daniel Dias, o maior medalhista na natação em Paralimpíadas? O cara é um fenômeno, é um orgulho, é brasileiro. Por favor, fiquem de pé e deem uma salva de palmas bem forte para esses atletas que, diferentemente dos participantes do Big Brother, são os guerreiros e guerreiras.”

Marina nem termina de falar e as pessoas já estão de pé aplaudindo de forma entusiasmada e aos gritos de Uhuuu, Viva, Parabéns, Heróis, Guerreiros e todo tipo de elogio possível e imaginável. Realmente é um momento lindo que dura quase dois minutos ininterruptos. Enquanto o público aplaude, os atletas se cumprimentam com abraços e beijos. Muitos sorriem. Muitos choram.

Passado o êxtase, Marina volta ao microfone.

“Uma vez, quando estava na quinta série, a professora de português nos fez escrever uma redação sobre o amor. Ela queria que descrevêssemos o que era o amor para nós. Muitas ideias se passaram pela minha cabeça, mas nenhuma conseguia expressar o que era amor.”

Marina fica em silêncio mais uma vez, e agora não consegue e não quer conter as lágrimas. Enquanto isso, silêncio total.

“Quando cheguei em casa ficou claro para mim o que era amor. Coloquei então tudo num papel e levei para escola. Pelo menos eu achei que tinha levado. Quando fui entregar a redação para o professora, não encontrei. Fiquei desesperada e chateada. Fiquei um tempo sem poder comer, pois queria que minha professora lesse. Fiquei muito triste porque foi a melhor redação que já escrevi na minha vida e eu a havia perdido. S[o que não...

Marina, com um sorriso largo no rosto, levanta algumas folhas de papel para o alto.

“Mexendo nas minhas coisas semana passada, eu a encontrei. Está aqui a redação que explica o que o amor para mim. E agora terei a oportunidade de lê-la não somente para minha professora, mas para todos vocês.”

Mais lágrimas.

“O nome da redação é ANJO.

O que é o amor? Depois de pensar muito sobre o assunto, cheguei à conclusão que o amor não é algo. O amor é alguém: ele nasce, pulsa, toma forma, cresce, amadurece. O amor não se guarda. Não é egoísta. Não se contenta em ficar só. Ele precisa se derramar. Precisa se espalhar. Não consegue ficar parado. Ele busca a tudo e a todos.

Deixe-me tentar exemplificar. Quando ainda dentro da barriga da minha mãe pude sentir o que é o amor. Eu ouvia todos os dias a sua voz. Ela conversava comigo. Ela cantava para mim. Ela sorria para mim. Ela gargalhava para mim. Havia momentos que ela também chorava. Mas nunca a ouvi chorar tanto quanto no dia que eu nasci. Eram lágrimas misturadas com sorrisos. O médico me colocou do ladinho dela e ali pude sentir suas lágrimas molhando o meu rosto.

Em casa pude sentir o seu grande amor por mim. Ela não desgrudava de mim por um segundo qualquer. Me alimentava. Me dava banho. Trocava minha fralda. Me colocava no berço para dormir. Essa parte eu não gostava não. Então eu começava a chorar para chamar sua atenção. E ela, mesmo cansada, levantava, me pegava no colo, cantava uma música de terror para mim (Nana neném que a Cuca vem pegar o papai foi pra roça e a mamãe foi passear), me dava mais leitinho, cantava mais um pouco e no fim eu acabava dormindo na cama com ela.

O tempo foi passando e fui percebendo o quanto ela me amava. O cuidado que ela tinha por mim. O sofrimento que ela passou para comprar minhas roupas, meus brinquedos. Mas nada a fez sofrer mais do que a notícia de que eu não iria andar. Que eu seria dependente de uma cadeira de rodas. Isso acabou com ela. Foi a segunda vez que a vi chorar muito. Mas dessa vez de tristeza mesmo. Lembro que ela me pegou no colo e não queria me largar. Dizia que me amava demais e que juntas iríamos conquistar o mundo. Dizia que não seria uma doença qualquer que iria atrapalhar os meus sonhos.

Ela então, mãe solteira, trabalhava dia e noite para poder pagar as contas e comprar os meus remédios. E também para adaptar a casa. Minha avó tomava conta de mim enquanto minha mãe estava fora. Foram momentos difíceis, tensos, duros, de muita luta. Eu a via muitas vezes cansada, mas nunca triste. Ao contrário. Ela chegava, tomava banho e lia uma história para mim. Feliz da vida. Sorrindo. Me abraçando e me beijando. Eu me perguntava como aquilo era possível. Mas agora entendo. Era o amor na sua mais pura forma.

Em um dos meus aniversários eu fiz dois pedidos. Um possível e o outro impossível. Todos os dias eu via minha mãe assistindo a novela, e sempre que havia um casal se beijando, ela suspirava. Eu pedi então para o Papai do Céu mandar um namorado para minha mãe."

Marina para de ler a redação e anuncia: "senhoras e senhores, meus pais." Todos então se levantam e começam a aplaudir, enquanto eles se encaminham para o palco. Ao chegar, os três se abraçam. Os seus pais se sentam e então Marina retoma a leitura.

"O segundo pedido não será tão fácil e não tenho certeza que serei atendida. Eu disse para o Papai do Céu que quando crescer quero ser como minha mãe. Amar como ela me amou. Me dedicar as pessoas como ela se dedicou a mim. Dar atenção as pessoas como ela deu atenção a mim. Entender as pessoas como ela me entendeu. Tratar as pessoas como ela me tratou. E quando ser mãe, quero ser mãe como ela."

Marina olha para sua mãe e dá um sorriso.

"Professora, não sei se a senhora acredita em anjo da guarda. Bem, eu acredito. O meu mora na minha casa e se chama Cristina. Deus a colocou no mundo para cuidar de mim. E ela tem feito isso de forma excepcional. Se hoje eu acredito no amor, é por causa do meu anjo Cristina. Se hoje eu sei o que é o amor, é por causa do meu anjo Cristina. Se hoje eu sinto o amor, é por causa do meu anjo Cristina.

Marina então dobra as folhas da redação e olhando para sua mãe diz: Mãe, obrigada por me mostrar o amor. Obrigada por ser o amor. Dona Cristina, EU TE AMO !!!"

O lugar vem abaixo. Nesse momento ninguém mais se aguenta. É uma choradeira só. Cristina corre e abraça sua filha. As duas ficam ali por algum tempo. Não escutam os gritos da galera. Nesse momento, elas apenas escutam o som do coração.

Marina então pega o microfone e diz:

"Sei que nesse lugar há muitas Cristinas. Há muitos anjos enviados por Deus para cuidar dessa galera que disputou as Paralímpiadas. Mas há também lá fora outros anjos que cuidam de pessoas com algum tipo de comprometimento da função física ou intelectual. Estou falado dos pais, que fazem o possível e o impossível para os seus filhos. Quero agradecê-los de coração e dizer que, lá no Céu, tem um lugar especial guardado para todos vocês. E quero encerrar essa minha participação dizendo: obrigado, obrigado,obrigado."

Depois da cerimônia, recheada de discursos, sorrisos, prêmios, abraços e lágrimas, Marina e sua família foram a sorveteria.


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