Quinze
de Outubro
Não
sei você, mas os dias que me trazem as melhores recordações da minha infância
são aqueles que passei na escola.
Lembro
com muito carinho e saudade dos meus amigos. Fazíamos quase tudo juntos. Juntos
preparávamos os exercícios de casa. Juntos fazíamos os trabalhos. Juntos
jogávamos bola durante a aula de Educação Física. Lembro que o professor quase
sempre deixava a escolha do esporte que iríamos praticar em nossas mãos. Com
uma bola de basquete na mão esquerda e uma de futebol de salão na mão direita ele
fazia a pergunta clássica: “Qual?”. Em 120% das vezes a bola de futebol de
salão saía vencedora.
Um
dos momentos mais esperados por todos era a hora do intervalo. Lembro das brincadeiras no pátio. Era um tal
de corre corre que deixava a inspetora Silvia de cabelo em pé. E as merendas
então? Pão com salsicha e suco de laranja; arroz e frango; bolacha doce e café
com leite; bolacha salgada e leite com chocolate; maça. Todos reunidos ali,
comendo, conversando, jogando bolacha um no outro, para depois nos levantarmos
e juntos corrermos pelos corredores da escola brincando de pega a pega. E a
inspetora Silvia atrás de nós. “Parem de
correr. Vocês acabaram de comer. Que teimosia, meu Deus. Pareeem de correeeer.”
Como
não sentir saudades dessa época? Como não sentir saudades do arroz com frango, das
brincadeiras, da inspetora Silvia? E como não sentir saudades daqueles que
ajudaram a formar o meu caráter? Daqueles que por muitas vezes me elogiaram
(momento modéstia) e algumas outras poucas vezes puxaram minha orelha. Não
literalmente, claro, apesar de alguns expressarem uma vontade enorme de
fazê-lo. Como não sentir saudades dela que foi minha musa inspiradora? Ela era
tudo. Quantas noites eu não perdi devaneando sobre nós? Nos imaginando juntos,
entrando no altar – peralá, o noivo
entra primeiro e depois a noiva – mas enfim, no meu sonho nós entravamos
juntos. De mãos dadas. E nos bancos, meus amigos, todos com 12 anos, gritando
nosso nome. Me lembro dela me dando um pequeno tapa na cabeça, dizendo: “Edson, acorda menino. Levante-se e conjugue
o verbo pentear no Futuro do Pretérito do Indicativo. E depois no Imperfeito do
Subjuntivo”. E eu sem pestanejar, concentrado, com meu cabelo de índio
penteado, conjugava o verbo pentear no Futuro do Pretérito do Indicativo. E
depois no Imperfeito do Subjuntivo. E ao término de cada conjugação eu olhava
para ela, esperando a sua aprovação. E ali estava. Então sentava novamente e
voltava a devanear. Passados alguns anos eu ainda consigo ver aquele sorriso.
Porem, não me peça para conjugar o verbo pentear no Futuro do Pretérito do
Indicativo e depois no Imperfeito do Subjuntivo porque eu simplesmente não sei.
Mas
minha musa não era a única. Lembro também do meu professor de Matemática, um
bigodudo. Da minha professora japonesa de Geografia. Lembro bem do dia que ela
pediu que desenhássemos o mapa do Brasil. Naquela época Tocantins ainda não
fazia parte do território brasileiro. E lembro que ela escreveu um ‘excelente’ no
meu mapa (momento modéstia 2).
Por
que será que depois de alguns anos (sim, alguns e não muitos) eu ainda me
lembro desses professores? A resposta é simples: eles fizeram parte da minha
vida, da minha educação. E eu os admirava demais. Ah, um outro professor que eu
admirava muito era o meu teacher.
Sim, o meu professor de inglês do CNA. Ele era muito bom e tinha um inglês
espetacular. E me lembro que eu não perdia uma aula dele. E me pegava pensando:
“Um dia vou falar inglês como ele. Um dia vou dar aula como ele”.
Você
em algum momento já se pegou falando isso? Ou já se pegou pensando nos seus
professores da época do maternal? Ou da época do 1º grau? Ou da época do
colégio? Ou até mesmo da época da faculdade? Tenho certeza absoluta que sim.
Todos nós temos nossos professores preferidos. E temos também aqueles de quem
não gostávamos. Faz parte. Ninguém é unânime. Ninguém consegue agradar a todos.
E isso se chama diversidade. O que é bom, legal, magistral, sensacional para
mim pode ser indiferente, chato, ruim para você. Mas em uma coisa pelo menos
nós concordamos. A profissão de professor é uma das mais belas desse nosso
Brasil.
Infelizmente,
apesar da beleza, é uma profissão desvalorizada, subestimada. A grande maioria dos
professores recebe um salário indigno. Muitos são insultados pelos adolescentes
de hoje em dia que não têm o mínimo de educação. Muitos reclamam da estrutura física
das escolas, com carteiras e cadeiras caindo aos pedaços. Olhando para esse
quadro é possível imaginar muitos professores arrependidos de terem se formado
em Letras. Poderiam estar ganhando dinheiro como advogados ou engenheiros. Mas
o que se vê é o contrário. Eles continuam de pé. Continuam aguentando desaforo
de adolescentes mal educados. Continuam aguentando salários baixos. Continuam
aguentando a indiferença do governo. E por quê? Porque amam o que fazem. Porque
não se vêem fazendo outra coisa. Porque o que os faz feliz não é o salário no
fim do mês, que é importante, mas saber que estão ajudando pessoas a realizar
sonhos.
Para
você que valoriza o trabalho do seu professor, dê-lhe um abraço e diga que ele
é importante. Tenho certeza que essas palavras irão incentivá-lo a continuar
estudando, se empenhando em melhorar as aulas. E o melhor beneficiado será
você.
Para
você caro professor, não importa se você leciona em uma escola pública ou
particular. Se você da aula num cursinho ou em uma faculdade renomada. Se você
é professor de inglês ou de espanhol. Não importa se você é chamado de professor,
teacher, fesso, tio ou tia. O que importa é que você tem uma das profissionais
mais belas do mundo. Sei que a situação atual é feia e que muitas vezes bate aquela tristeza.
Bem, quando estiver desanimado, levante e cabeça e lembre-se que o que você
ensinou está sendo usado por alguém em algum lugar desse nosso mundão. E o mais
legal, alguém em algum lugar desse mundão está pensando em você e o está
agradecendo.
E
para vocês governantes, parem de desfalcar, defraudar, afanar, surrupiar,
limpar e rapinar os cofres públicos. O dinheiro que está lá provem do povo e
deve ser gasto para o bem do povo. E não há bem maior do que investir na
educação. Nosso país seria um lugar muito melhor e mais digno para se viver se
nossos professores tivessem mais recursos para ensinar e ganhassem um salário digno.
Tenho certeza que vocês governantes tiveram professores excelentes e nenhum
deles os ensinou a arte da corrupção. A arte da indiferença.
Bem, escrevo esse texto para expressar aqui o meu MUITO OBRIGADO a todos os professores que passaram pela minha vida, e estendo os PARABÉNS para TODOS
OS PROFESSORES DO BRASIL!!!
!!!PARABÉNS PROFESSORES, TEACHERS, FESSORES, TIOS E TIAS!!!