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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Maior churrasqueira do mundo



Antes que você queira me processar por propaganda enganosa, preciso informar que esse texto não fala sobre churrasco. Pelo menos não de forma veemente. Na verdade o tema surgiu quando estava almoçando e vi a chamada da reportagem na televisão. Nosso tema aqui é outro. Falaremos sobre o bom e velho jeitinho brasileiro. Pera lá. Preciso reformular isso. MAU e velho jeitinho brasileiro.

No último domingo, no programa do Fantástico, assisti à uma reportagem que me fez ter tristeza de ser brasileiro. Me fez pensar no porquê de tantas falcatruas. Por que temos que tentar tirar vantagem de tudo? E pior, de todos? Por que a ideia maldita de subir na vida, de ser alguém, de ganhar um salário bom às custas de esquemas nebulosos e que prejudicam a vida de pessoas inocentes? Por que não tentar subir na vida dignamente e viver com aquilo que recebemos? Não está satisfeito com o que ganha? Vá atras de novas oportunidades. Mude de emprego. Faça um curso profissionalizante. Estude inglês, espanhol e mandarim. Se você for bonitão e sarado ou bunduda e peituda, opa, pode participar de um reality show. Mas se for feio, não se preocupe, pois também há espaço para os feios na televisão. O que não falta são opções para busca algo melhor, mas pelo amor de Deus, NÃO ESCOLHA O CAMINHO MAIS FÁCIL E NÃO PREJUDIQUE ALGUÉM PARA CHEGAR ATÉ LÁ.

De volta ao programa. Lavradores rurais de todas as partes do Brasil estão sendo enganados e roubados por advogados que deveriam cuidar do interesse dos seus clientes. Pessoas idosas, incapazes, muitos sem nenhuma escolaridade são ludibriadas por pessoas que tiveram o privilégio de estudar num país de semi-analfabetos. Nossos idosos estão caindo na lábia desses salafrários, pois como não 'entendem de lei' deixam essa burocracia toda para os homens de terno e gravata. E como funciona o esquema? Pequenos lavradores rurais dão entrada no INSS com o pedido de aposentadoria e muitas vezes tem o pedido negado. A Justiça leva até 2 anos para julgar o caso. Quando o lavrador ganha a causa, tem direito a receber o que chamam de retroativos, isto é, os valores atrasados enquanto o caso era julgado. E é nesse momento que percebem que foram enganados, pois quando vão ao banco sacar o dinheiro não encontram o respectivo depósito porque o advogado se antecipou e recebeu o dinheiro no lugar do aposentado, repassando 50% ou as vezes NADA.

Seguem alguns casos:

Dona Ercília
Dona Ercília tinha direito a receber R$ 12.000,00 e usaria esse dinheiro para acertar suas dívidas, comprar comida e remédios. Recebeu apenas metade disso, isto é, R$ 6.000,00. A outra metade ficou com o advogado Romilson Nogueira que disse ter cobrado apenas 20% de honorários. Pelo jeito ele não sabe fazer conta e dona Ercília continua devendo e tem dificuldades para comprar seus remédios. Consequentemente continua trabalhando na roça para tentar de uma vez por todas suas dívidas.


Geraldo e Rita Balbino
Geraldo Balbino caiu da escada e acabou machucando a coluna e não pode mais trabalhar na roça. Recebeu de atrasados R$ 17.300,00. Quer dizer, tinha que receber. Todo o dinheiro foi para a conta do seu advogado. Sua mulher, Rita Balbino, aos prantos disse: "É muito difícil moço. No café da manhã a gente come taioba. No almoço é mingau de taioba. A noite, mais taioba. Meus filhos até pouco tempo atrás não sabiam o que era biscoito".


Pedro Baleiro se aposentou por invalidez por ser portador da doença de Chagas. Tinha direito a receber R$ 16.000,00. Ficou feliz porque com o dinheiro iria comprar os remédios para tratar sua doença. Remédios esses que não são baratos. Mas ao chegar no banco percebeu que só havia R$ 8.000,00 na conta. E ainda viu o valor mensal que recebe de aposentadoria ser dividida com o advogado por 12 meses. Nesse período ele pagou todo mês R$ 365,00 para o ilustre advogado Fabio Oliveira de Souza. Quando questionado ele disse "Ninguém é obrigado a trabalhar com a gente. Eles que nos procuram e são avisados dos valores." Será mesmo que são avisados?

Seu Domingo de Sá recebeu R$ 20,00
Seu Domingo de Sá perdeu as pontas dos dedos quando trabalhava na plantação de cana de açúcar. Tinha direito a receber R$ 9.300,00. Não sabia que havia ganho a causa. Foi um oficial da justiça que o avisou. Quando chegou ao banco não havia nenhum deposito na sua conta. Todo o dinheiro foi para a conta dos advogados Leonardo de Almeida Magalhães e Matheus B. Campelo Pereira. Quando questionado pelo lavrador sobre o dinheiro, Leonardo disse disse: "Calma lá. Não ficamos com todo o dinheiro. Ainda tem R$ 20,00 para o senhor". O repórter perguntou ao seu Domingos porque ele assinou a procuração. "A  gente não sabe ler direito né. Ele mandou assinar e eu assinei".

Dona Iracema mora numa casa com o teto quase cedendo e precisa de dinheiro para comprar remédios. Ficou feliz quando soube que receberia R$ 20.800,00 de aposentadoria. Iria dar um jeito no teto da casa e finalmente comprar os remédios. Mas a alegria durou até o momento de puxar o extrato bancário. Os mesmos advogados de seu Domingo já haviam recebido o dinheiro que por direito pertence a dona Iracema que disse chorando: "Num creditei. Nossa Senhora, a gente passa até fome as vezes".


Catarina Marques
Catarina Marques da Silva entrou com pedido de aposentadoria por invalidez porque quase perdeu o pé quando trabalhava na lavoura. Com dificuldades para andar e precisando comprar remédios caríssimos, teve o direito de receber R$ 28.000,00. Porém, só viu a cor da metade pois os outros R$ 14.000,00 foram para a conta do advogado. Depois de Catarina reclamar e chorar muito, ele decidiu dar mais R$ 1.000,00. Que homem de bom coração.


Esses são casos reais de brasileiros que poderiam ser nossos parentes. E você gostaria de ver o seu pai, mãe, avô ou avó serem enganados dessa maneira? E a justiça? Essas pessoas trabalharam boa parte da vida e agora o que querem é apenas curtir os últimos anos de vida de forma digna. E não estou falando de grana no bolso para viajar pelo Brasil e mundo, o que é válido e seria maravilhoso se todos pudessem fazer isso. Estou falando de ter um dinheiro para ter o básico: comida na mesa, roupa, remédios. Isso é o minimo.

Muitos assistiram a essa matéria e como eu estão revoltados. Alguns disseram que queriam entrar na televisão e dar uns socos naqueles safados. Aliás, é bom deixar claro que não estou dizendo que todos advogados são safados. Ao contrário. Há advogados honestos e que ajudam sim a sociedade, até em casos como os citados acima, onde eles muitas vezes recebem apenas 20% de honorários (o que é o mínimo que a OAB exige) ou muitas vezes nem cobram pelos serviços prestados (pro bono) deixando todo o dinheiro para os aposentados. Para esses eu tiro o chapéu e digo obrigado por serem bons cidadãos. Minha revolta é contra esses pilantras que tiram proveito da humildade, da idade e da falta de escolaridade de muitos dos nossos velhinhos. Como será que eles dormem a noite sabendo que o carro que está na garagem ou a casa bem mobiliada que eles têm é fruto de um esquema asqueroso que faria o Coringa do Batman ter nojo deles.

Mas há luz no fim do túnel. Na cidade de Guanambi que fica na Bahia (cidade natal da mãe desse que vos escreve) 28 advogados estão sendo processados pelo Ministério Publico e se condenados serão obrigados a devolver em dobro o que pegaram a mais. É claro que eles ainda podem recorrer, mas espero que o juiz do caso seja duro e humano e perceba a injustiça feita contra os nossos velhinhos.

Ah é. A maior churrasqueira do mundo. Quando penso nela imagino esses advogados rindo à toa com a sua taça de cerveja na mão, preparando um belo churrasco com o dinheiro ganho dos aposentados, cantando, sambando e dizendo "Acaba não mundão bão".


domingo, 25 de janeiro de 2015

SEU BARRIGA

Derick, Seu Barriga e Antony


No dia 28 de dezembro de 1948, na Cidade do México, nascia Édgar Vivar, mais conhecido como Seu Barriga, um dos personagens do seriado Chaves. Quem não se lembra dos bordões ‘Tinha que ser o Chaves mesmo’ e ‘Pague o aluguel’. Édgar através da sua graça tocou o coração de milhares de pessoas no mundo inteiro.

Três anos antes, mais precisamente no dia 19 de setembro de 1945, na cidade de Bastos, São Paulo, nascia Carlos Reis, também conhecido como Seu Barriga. Ele não foi tão famoso como seu colega mexicano, mas marcou muitas vidas, principalmente da família Reis e de algumas outras mais que viviam e ainda vivem na Cidade Pedro José Nunes.

Carlos não nasceu com uma barriga protuberante e seu apelido de infância/juventude não era Seu Barriga. Ela foi se formando com o passar dos anos. E como todo homem que possui uma barriga saliente, ele dizia a sua era expressão de experiência.

Meu pai sempre foi um cara cheio de vida, alegria e que gostava de conversar. Tenho ótimas lembranças dele. Lembro de uma foto onde ele está com um uniforme do exército. Está magro, jovem e bonitão. Não sei não, mas acredito que foi aquela foto que fez minha mãe se apaixonar por ele. Lembro também que quando comecei a trabalhar ele fazia questão de me acordar. Todo santo dia. E todo santo dia me acordava meia hora mais cedo, dizendo que eu estava atrasado. Eu levantava correndo, ia para o banheiro para tomar banho e depois, mais calmo e querendo matá-lo, perguntava por que fazia aquilo. ‘Eu faço isso para que você não perca a hora.’  E mesmo com todo esse cuidado eu acabava chegando atrasado às vezes. Naquela época a população de São Paulo já sofria com o transporte público.


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 Meu pai era, infelizmente, corintiano. No entanto não era fanático. Tanto que três dos seus filhos torcem para o Palmeiras e só um, Ronaldo também conhecido como Beiçudo, torce para o Corinthians. Mesmo assim ele gostava muito de assistir aos jogos e nesses dias eu via como uma partida de futebol pode mudar a natureza do ser humano durante os noventa minutos. Meu pai era um homem sossegado e amigo de todos, mas quando começava o jogo... Meu Deus. ‘Como você pode ser tão burro. Toca a bola oh imbecil.’ ‘Vai tomar no... Como pode perder um gol desses?’ ‘Vai pro inferno mesmo viu. Que time horrível esse do Corinthians.’ ‘TOCA A BOLA OH ANIMAL.’ Eu, criança, ficava meio assustado com tanta raiva e palavrão desferidos contra a televisão. O engraçado é que anos depois eu me pegava fazendo a mesma coisa ao assistir aos jogos do Verdão.

 Como disse meu pai era um cara legal e amigo, porém se fizesse coisa errada... a cinta estralava. Perdi a conta de quantas vezes meus irmãos e eu apanhamos. Kkkkk... Dou risada hoje. Kkkkk... Na verdade estou rindo agora por lembrar de tantas surras que tomamos. Mas naquela época não era nada engraçado. Lembro por exemplo do dia que um menino chamado... Chamado... Como era mesmo o nome dele?!?!... Bem, não importa... Esse menino cortou a minha pipa na mão (quem já empinou sabe do que estou falando). Fiquei furioso e fui tomar satisfações. Conversa daqui, xingamento dali, peguei a lata de linha dele e joguei no bueiro. O menino não hesitou: pegou minha bicicleta que estava deitada no chão e saiu pedalando como um crazy maniac. E eu correndo atrás dele também como um crazy maniac. Foi uma cena hilária. Pois esse menino sumiu. Quando meu pai chegou e ficou sabendo da história, me fez ir atrás do menino, dar o dinheiro referente à linha e pegar minha querida bicicleta de volta. Depois me deu uma surra... Meu pai geralmente segurava um braço e o outro ficava livre. E era essa mão livre que eu usava na tentativa de proteger minhas nádegas. Meu pai calmamente dizia: ‘Tira a mão. Tira a mão agora. Senão vai ser pior’.  Mas não tinha como não por a mão. Era algo automático. E eu berrava por socorro. Pedia ajuda à minha mãe e ela nem tchum. Depois dizia que me amava.


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Uma surra clássica dentre tantas aconteceu quando quebramos o vaso favorito do meu pai. Eu, o Nem e o Naldo estávamos brincando de esconde-esconde. O Du tinha saído de carro com meu pai e minha mãe, o que deixou a garagem livre.  Estávamos nos divertindo muito até que o Naldo ou o Nem, não sei ao certo, só sei que não fui eu (eu acho), se escondeu atrás do vaso. Pois bem, na hora de correr para bater um, dois, três, o Nem ou o Naldo bateu no vaso. De repente só ouvimos um pah. Quando olhamos para trás havia vaso, terra preta e plantas espalhadas por toda a garagem. ‘Buaaaaaaaaa... O pai vai nos matar’. ‘Já sei’ eu gritei, ‘Vamos limpar tudo e depois vamos dormir que quando o pai chegar não vai nos bater dormindo, certo?’ Limpamos a garagem rapidamente, tomamos banho e fomos dormir. Só que antes de deitar nos precavemos. Cada um colocou três calças e várias blusas. Me lembro como se fosse ontem. Meu pai chegou e como um detetive veterano do programa CSI viu os vestígios de terra no chão da garagem. Olhou para onde ficava o vaso e não viu nada além de cacos. Entrou calmamente em casa e foi direto em quem? Em quem? No filho mais velho. ‘Edson. Edson. Acorda filho’. Eu estava dormindo coisa nenhuma. Estava só fingindo. ‘Edsooooon. Acorda filho. O pai quer falar com você’. Eu, como grande ator de novela mexicana demorei um pouco para abrir os olhos. Coloquei a mão no rosto ‘Hã? Pai? O que foi?’ ‘Quem quebrou o vaso? Eu não falei que era para tomar cuidado’. O Naldo, o maior bunda mole de todos, já começou a chorar sem apanhar. Eu, para servir de exemplo, fui o primeiro a sofrer as consequências. ‘TIRA A MÃO DA BUNDA, EDSON’. ‘NÃO VOU TIRAR’. Imaginem a cena: meu pai tentando acertar minha bunda com a cinta, pois sabia que era ali que doía mais e eu a defendendo. Enquanto isso, no canto da sala, o Naldo chorava sem ter tomado nem uma cintada. Só sei que nesse dia apanhamos que nem gente grande. Mas o legal de tudo era que depois íamos dormir e começávamos a rir, lembrando da situação.




Uma coisa que o Seu Barriga amava fazer era visitar nossos parentes em São José do Rio Preto. Sempre que possível arrumava as coisas, colocava no carro e botava o pé na estrada. Gostava de sair de São Paulo de madrugada. Assim evitava o transito infernal da Marginal e chegava de manhã em SJRP. Ele se sentia muito bem lá. Eu também, apesar do calor. Muito mais quente que em São Paulo. Meu pai que não era nada bobo aproveitava então para tomar banho em alguns açudes que havia por lá. Era muito engraçado vê-lo com aquelas pernas finas, barriga saliente e sunga. Lembro dele ensinando o Derick a nadar.

Tudo era bom e ainda é por aqueles lados. Mas havia algo que não era bom. Era ótimo. Toda vez que estávamos chegando em SJRP meu pai parava numa barraca à beira da estrada para tomarmos caldo de cana. Que delícia. O melhor caldo de cana do Brasil. Geladinho. Na medida certa. E na volta trazíamos para casa pets do refrigerante Cotuba. Que refrigerante gostoso. Pena que não temos esse refrigerante aqui na capital.


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Meu pai era motorista do caminhão de gás Liquigás. Eu achava o máximo. Uma vez por semana ele passava em casa no horário do expediente. Eu adorava entrar na cabine e ficar mexendo no volante, fingindo que estava dirigindo. E também subir na caçamba e ficar mexendo nos botijões. Lembro do meu pai levando dois botijões vazios e batendo um no outro pelo meio das pernas. Aquilo me dava uma agonia.  E a musiquinha? Era impossível não saber quando meu pai estava chegando. Essa música rapidamente virou um clássico e é tocada até hoje. Ele era muito feliz trabalhando na Liquigás. Naquela época ele já bebia, mas de maneira controlada. Nada demais. O problema começou quando ele se aposentou...


Quando ele saiu da Liquigás se viu com um tempo ocioso muito grande. Não tinha muito que fazer. Ele acordava cedo, me acordava e ia à padaria comprar pão, leite e sua broa de milho (por causa dele sou também viciado em broa de milho no café da manhã). Depois do café ficava na calçada, observando o que acontecia na rua, cumprimentando quem ali passava. Mais tarde ia para o bar do Joaquim e ali se reunia com outros aposentados para beber uma e jogar sinuca. E assim ia até a tardezinha da noite. Como tinha mais tempo, as viagens para SJRP ficaram mais corriqueiras. E foi nessa vida, na verdade um pouco antes de aposentar, que sua barriga começou a tomar forma de melancia, lhe valendo o apelido de Seu Barriga. No começo, era algo até que normal. Não tendo mais que levantar cedo para ir trabalhar, era normal que se ocupasse conversando com os amigos e tomando uma. Com o tempo, a coisa deixou de ser normal. Começou a beber mais cedo e a chegar em casa mais tarde. Eu e meus irmãos não gostávamos, mas não ligávamos muito. Éramos adolescentes. Tínhamos nossos próprios conflitos para resolver. Quem sofria e muito era minha mãe. Ela brigava com ele, dizendo que ele estava exagerando.




Meu pai era teimoso, pois ele tinha diabetes e precisava se cuidar. Não podia deixar de tomar os remédios e com isso dar brecha para a doença. E por conta disso precisava maneirar na bebida. Minha mãe sabia que do jeito que as coisas estavam se encaminhando ele iria parar no hospital. Dito e feito. Teve um derrame e perdeu a mobilidade do lado esquerdo do corpo. E por causa da mistura de remédios e álcool acabou tendo seu corpo debilitado, fraco, o que fez que ficasse numa cadeira de rodas. E como a diabetes judiou dele. Ele tinha umas feridas nas pernas que não saravam por causa dela. O médico percebeu que a perna já estava ficando preta e teve que amputá-la antes que outros órgãos fossem comprometidos. Foi um momento difícil para todos nós. Minha mãe não tinha mais vida, pois a vida dela agora era cuidar do meu pai. Sua vida era do hospital para casa. De casa para o hospital. Lembro de vários parentes vindo de todos os lugares do Brasil para visitar o Seu Barriga. Ele era muito querido.

 Eu sei. A história ficou meio triste agora. Porém foi nesse momento complicado que algo inusitado aconteceu. Estávamos sentados à mesa, comendo o pão de broa que ele tanto gostava quando tive a ideia de contar uma das minhas piadas hilárias. Não me pergunte qual porque sinceramente não me lembro. Nesse dia meu pai não estava falando direito por causa do derrame, era difícil entender o que ele dizia. Só sei que quando acabei de contar a piada, ele ria. E ria. Ria demais. E nós todos riamos também. Não por causa da piada, mas da forma gostosa e espontânea que ele ria. Isso me marcou. É uma imagem que ficará para sempre na minha mente. Lembro dele batendo palmas, rindo e dizendo ‘Boa, Esso’.

E é com essa imagem que quero encerrar esse texto. Uma imagem do meu pai sorrindo, feliz da vida. Porque ele era assim. E que o Papai do Céu o tenha em bom lugar. Quem sabe ele não esteja ao lado da minha mãe e juntos estejam dando boas risadas.

Te amo pai !!!



Carlos Reis

19/09/1945 – 14/07/2006



quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Coisas da vida...

Menina de 5 anos morre com bala perdida enquanto espera o pai que saca dinheiro no caixa eletrônico. Coisas da vida...

Mãe espanca o filho quase até a morte pois quer dormir e o menino não deixa. Detalhe: a criança chora pois está faminta. Coisas da vida...

Mulher briga com o ladrão que tenta roubar seu carro. Milagrosamente ela consegue escapar sem levar um tiro em um transito que está praticamente parado. Coisas da vida...

Terroristas entram num escritório na França e matam 12 pessoas. O motivo: charges que insultam Alá. Coisas da vida...

Dois motoristas saem do carro e começam a brigar pois um deles não percebe que o farol está vermelho e acaba batendo no carro do outro. Os dois brigam ferozmente, indiferentes aos gritos dos filhos que estão no banco de trás. Coisas da vida...

Torcedores entram em confronto com a polícia após o seu time perder a semifinal para um rival. Dois policiais são gravemente feridos e um torcedor morre. Coisas da vida...

Bairros inteiros de São Paulo estão sem água há dias, pois o governo não se preparou, gastando pouco e errado. Coisas da vida...

Mulher grávida tem início de parto ao ser pisoteada por homens que como animais selvagens e por isso IRRACIONAIS lutam por um lugar dentro do trem. Coisas da vida...

Uma senhora não aguenta e morre depois de ficar 2 dias no corredor de um hospital público a espera de atendimento. O que não aconteceu pois não há maca, nem quarto, nem MÉDICOS. Coisas da vida...

Mulher de deputado enrola a policia enquanto seu marido foge pela janela dos fundos da casa. O meliante foge vestindo apenas pijama. Coisas da vida...

Polícia deixa deputado corrupto fugir, pois ninguém dentro da corporação teve a ideia de colocar alguém vigiando os fundos da casa. Coisas da vida...

Escritor sem inspiração para escrever algo mais interessante. Coisas da vida...




sábado, 10 de janeiro de 2015

Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.

Dizem que a probabilidade de um raio atingir a sua cabeça é de uma em um milhão. Outros são mais pessimistas e dizem que a chance é de uma em 576.000. Não sabemos quem está correto, mas uma coisa é certa: dificilmente um raio caiará na sua cabeça, a não ser que você esteja num local onde a incidência de raios é grande, como no caso do Brasil. Por ser um país com dimensões continentais podemos encontrar os mais variados climas, o que ajuda para que 57 milhões de raios sejam registrados por ano no Brasil, especialmente nas regiões Norte e Centro-oeste. 

Você deve estar pensando agora "tudo bem porque um raio não cai duas vezes no mesmo lugar". Para você tenho apenas uma palavra: mito. Os raios não só podem como caem no mesmo lugar. No ano passado nosso querido Cristo Redentor no Rio de Janeiro foi atingido 8 vezes enquanto que o Empire States em Nova Iorque foi atingido 24 vezes. Mas não pense que estará a salvo longe desse lugares, subindo numa arvore por exemplo ou ficando num campo aberto. Nesses casos você poderá ser atingido, servindo como escape para a descarga elétrica.

No dia 29/12/2014 um raio tirou a vida de 5 pessoas da mesma família. Elas estavam em Praia Grande, litoral paulista, quando começou a chover. Correram todos então para debaixo de um guarda-sol e de repente um raio atingiu o objeto e junto com ele oito pessoas. 3 conseguiram sobreviver. Entre as vítimas fatais estava uma mãe gravida. 

Quando pensei nesses números não pude deixar de compará-los a um fenômeno que não é natural como o raio, mas que também pode matar e que as chances de acontecer com você são muito maiores e para o seu e o meu azar, pode acontecer mais de uma vez. E como o raio, ele também pode te atingir num prédio, dentro de casa, na rua, na praia, no interior, na cidade grande. Estou falando do fenômeno assalto.

Em junho estava voltando para casa quando fui abordado por dois rapazes que, com uma 765 prateada (pelo menos acho que era uma 765), educadamente pediram meus pertences "casa caiu. passa a mochila, fdp". Enquanto um ficava com a arma apontada pra minha cabeça o outro foi pegando minha mochila, onde estavam o meu laptop e uma blusa que ganhei de presente de aniversário, minha carteira e meu celular. Depois de feito a limpa veio o momento mais tenso. "agora vira e sai andando oh fdp. e não olha pra trás, senão meto bala". O medo cresceu nesse momento. Fiquei imaginando o rapaz disparando a 765 na minha nuca. Andei rápido enquanto pedia para Deus não deixar que aquilo acontecesse. Foram 10 segundos que pareciam 10 minutos. Eles então subiram na moto e sumiram. 

No dia 30 de dezembro o raio caiu pela segunda vez no mesmo lugar. Estava agora saindo de casa quando pensei em ligar para o meu filho. No momento que comecei a discar, dois rapazes disfarçados de entregadores de pizza encostaram e educadamente pediram para usar o meu celular. "passa o celular agora, porra". Um ficou na moto enquanto o outro desceu e apontando um 38 na minha cara  (pelo menos eu acho que era um 38), pegou o meu celular. Tive vontade de reagir, mas fiquei só na vontade. Fiquei sim foi com muita raiva. Xinguei aqueles moleques e queria muito que eles sofressem um acidente. Fiquei pensando como aquilo tinha acontecido comigo de novo. Estava enfurecido. Depois, com mais calma, pensei bem e agradeci a Deus por nada ter acontecido comigo. Levaram o meu celular, mas não a minha vida e por isso sou muito grato.

É muito difícil ter que passar por uma situação dessas. Você fica vulnerável e sem poder de reação. E é muito triste saber que esses assaltos não são mais exceções. Hoje podemos encontrar histórias de pessoas que foram assaltadas mais de 5 vezes. E elas ainda têm sorte porque infelizmente muitos perdem a vida. 

Seria bom se um raio não caísse. Seria melhor ainda se não caísse duas vezes e no mesmo lugar. Porém infelizmente acontece. Mas isso é coisa da mãe natureza. Já a 'mãe governo' que deveria nos oferecer proteção, afinal pagamos altos impostos, essa quer mais que a gente se exploda. E é por essas e outras que as pessoas vão as lotéricas fazer uma fezinha na mega sena e com isso quem sabe mudar para um lugar onde haja menos violência. E tenho certeza absoluta que você jogou na mega sena da virada. Estou certo? Pois tenho más notícias: é mais fácil você ser atingido por um raio.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Santinha

          

I had this crazy dream yesterday. I dreamed about my mom. It’s been 3 years, three months and 9 days since she left this world. More precisely on February 3rd, 2011. It seems like it was yesterday when we were at Servidor Publico Hospital waiting for the doctor to examine her and tell us that everything was just fine.  It turned out that it wasn’t.

I was not at the hospital. My sister and my brother were accompanying our mom. I was working when I got the call from my sister. She was crying. I couldn’t understand exactly what was going on. I had to ask her to calm down. Then she said that something was wrong with mom. I left my job and went straight to the hospital.

When I got there the doctor asked to talk to me and to my brother, leaving my sister outside the room. She wanted to talk to us in private because she noticed how desperate my sister was. So we went to an empty room and then she gave the bad news. Mom didn’t make it. A fulminant heart attack took her life away. She said they tried everything to bring her back to life but it was worthless.  She was already gone.

Like they say in Brazil ‘I lost my floor’. Literally. Those words were echoing in my ears. ‘I’m sorry. She didn’t make it.’ ‘We tried everything’. Terrible words to hear. Especially when someone you love is involved.  We knew that that day would come. We had talked about it, my siblings and I. Mom was not feeling well in the last months.  I remember her complaining of short breath when going to the bakery which is not far from her house. I remember her telling us ‘you guys need to get used to it. I am leaving you soon.’  We didn’t want to admit but we knew she was right. She had Chagas. A disease she got when she was a teenager and lived in Bahia.

So the crucial moment had arrived: to tell our little sister that our beloved mom was not among us anymore. I could anticipate what would happen in the next 10 minutes. Despair. Cry. More despair. More cry. It was difficult to control her. She didn’t want to believe that the woman who went to Bahia to adopt her wasn’t breathing anymore.


My mom had special feelings for my little sister. She had tried four times but never got it right. She first had me. Then she gave birth to my brother Anderson. And then she had my brother Eduardo. And at last but not least my brother Ronaldo. She loved us, I can tell you that, but she wanted a girl. She wanted to spend hours dressing her and combing her hair. She wanted a girl friend so they would talk about boys. What my sister should do. What she shouldn’t do. That’s what my mom wanted. And she had it because I remember her combing my sister’s curly hair while she played with a doll. But that’s not the only thing I remember.

I also remember my mom ironing my clothes while I took a shower and got myself ready to work. It felt really good to dress those hot pants and hot shirt. I felt hot. And then she would prepare the coffee and the milk and the bread and the margarine. I remember her making rice and burning it a little bit which was fantastic because I liked the taste of burned rice. Not black burned. Yellow burned. And I remember her telling my brothers “Nobody touches that. That’s Edinho’s”.

My mom used to call me that unless of course she was pissed at me. Then she would call me Edson Brito Reis. Oh boy. When I heard my complete name I knew that I was in big big trouble. But hey, that’s what moms do, right? They love us since day one and for them we will never grow up. We will be their children forever. We will be Edinho, Fabianinha, Fernandinha, Shaninha, Rosaninha, Felipinho, Bruninho, Danilinho, Talitinha, Marininha, Sarinha, Carolzinha and others –inhas and –inhos spread throughout the whole country. And they will use these names no matter how old we are or where we are.

Another particularity we can find only in moms is to think that their children are the cutest ones no matter how ugly we are. I can hear my mom saying “Come here you. Yeah, you. The cutest boy in the whole world.”  And I remember my brother protesting “Hey mom. I thought you said I was the cutest.” And she would say “And you are. Come here you. The cutest boy in the whole world”. That was my mom. That is everybody’s mom. We can be tall or short. Fat or thin. Blonde or brunet. We can have big or small nose. Long straight or short curly hair. Big or tiny eyes. It doesn’t matter because we will always be the cutest boy/girl in the whole world.

This will be the 5th Mom’s Day without her. I feel sad about it. However, this text is NOT ABOUT SADNESS. No sir. It is quite the contrary. It is about HAPPINESS, because being mom is being happy. Being mom is bringing happiness to other people’s life. And how do I know that? Because I am a mom, of course. No, I am not. I am a father actually. And I think I will never know what it is like to be a mom because being mom is unique. Only a mom knows what a mom feels. Let me try to explain.


I have a friend who happens to be a mom and you can see the sparkles in her tiny eyes every time she talks about her kid. She cannot control herself. She smiles, laughs, cries all at once. And I do believe she would move the Earth for him. She would do anything for him. Gosh, she would die or kill for him if it was necessary. I remember the first time she had to spend almost a   whole day away from him. She was devastated. I could tell just looking at her. “It’s my little prince…” - she said – “My mother said he didn’t want to eat today. What’s gonna be of him without me? What’s gonna be of me without him?”  
Moms are like that. They are always worried about us because they are extremely protective. They are extremely careful when we are taking our first steps because they don’t want us to get hurt. They worry (and cry) at our first day at school. They think about the bullying we might suffer. They worry if the person we are dating is good for us. They wonder if the person will make us happy. As a matter of fact they want to choose our boyfriends and girlfriends. It is like we need their approval. “I don’t know darling. I don’t like this girl. She doesn’t seem trustful.”

Another thing about moms is that they don’t want to show us that they miss us. They want to show us that they don’t care. They want to show us they are strong and can survive without us. However, if you do not go to her house on Sundays at least to say hi they will say “I knew it. He doesn’t love me anymore. I am not important anymore. Now he has another person to cook and iron his clothes for him. Buaaaa…”

Well my dear friends. I don’t know if you believe in angels. I know I do. And for me moms are like angels. They are here to guide us, protect us, advise and punish us when necessary. So please stop doing whatever you are doing and give your angel, your mom a bear hug. Hug her for 5, 10, 15 minutes and don’t let her go. Tell her how much you love her. Tell her how special and important she is in your life. Do this today. Do this now. We don’t know what surprises tomorrow has for us.



Love you mom. Wherever you are!!!